AGENDA CULTURAL

16.12.06

Dona Moranga é anoréxica


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava lotado na sexta-feira, ontem, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos.
- Duas quadradas bem geladas!

- Mande a boa, por favor!

Os barrigudinhos reverenciavam Santo Onofre em seu nicho e jogavam um gole para o santo para desespero de Dona Assunta, pois o ladrilho ficava todo enlameado.

- Uma porção de torresmo, por favor!

Eram os pratos alternativos de Dona Assunta que administrava a cozinha. Ela deixava o Seu Sugiro desesperado, era a concorrência interna desleal. Então, ele gritava:

- Sugiro espetinhos de filé miau!

E os pedidos vinham aos montes para a alegria do japonês churrasqueiro que ficava na calçada realizando seu serviço.

Amelinha, na caixa, mais anotava do que recebia. De vez em quando, Caneta Louca, seu noivo, passava por lá para lhe dar um beijinho no rosto, com vaias dos barrigudinhos. E vinham os gritos:

- Casa ou não casa? Deixe de enrolar a moça!!!

Dona Moranga desaparecera do boteco. Miltão, seu marido, trazia notícias dela. Estava fazendo regime, queria ser Juliana Paes, a “boa” da Antarctica.

- Cuidado, Miltão! Ela não está ficando anoréxica? – perguntou Bicho Grilo.

- Que nada! Aquilo vai morrer, sim, mas de bulimia. Ela faz regime só para gente ver. À noite, assalta a geladeira – explicou Miltão.

Gordo deu seu palpite:

- Anorexia pra mim é coisa de fresco. Sou gordo, feio e cachaceiro...

Quando ele ia terminar alguém gritou:

- E chifrudo!

Aí, ele virou fera! Como alguém se atrevia a lhe chamar de chifrudo! No desespero, perguntou:

- Alguém já comeu?

Nas costas do Gordo, gritaram:

- O vizinho come sempre!

Nem preciso dizer, caro leitor, que cadeiras rodaram no ar, não faltaram pescoções pra ninguém. Caneta Louca, desesperado gritava:

- Sossega, gente! Vocês estão quebrando tudo!

Faca Amolda deu o grito da paz:

- Rodada por conta da casa!

A quebradeira foi parando, recolheram as cadeiras amassadas. Dona Assunta passou remédio nos esfolados dos barrigudinhos. Até Santo Onofre havia tombado em seu altar. E a paz de copo cheio predominou.



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