AGENDA CULTURAL

5.12.06

Não dê panetone ao porteiro no Natal

Hélio Consolaro

Natal está chegando, faltam apenas 20 dias. Imagine, caro leitor, se Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas, cujos personagens são pobres, vítimas da seca e da exploração, tivesse escrito esta mensagem para seus amigos. Não seria uma incoerência?

Então, caro leitor, recebi por e-mail a mensagem abaixo de um escritor (não é de Araçatuba), cujos livros têm personagens que são vítimas da pobreza. Se eu tivesse recebido tal texto de alguém que nunca havia escrito romances e contos usando pobres como personagens (fazendo uma opção de classe), não me assustaria.

Mas as pessoas mudam, são metamorfoses ambulantes. Raquel de Queirós, por exemplo, tinha vergonha de ter escrito o romance “O Quinze”. Houve até um presidente da República que pediu aos intelectuais que se esquecessem daquilo que havia escrito nos livros. Por que meu caro amigo não pode fazer o mesmo?

A mensagem, em si, é uma sacanagem com as entidades filantrópicas, com ONGs. Que os derrotados no pleito eleitoral xingassem Lula, PT e outros, mas não organizassem boicote a ações humanitárias.

Este croniqueiro fala demais. Entre em contato com o texto, transcrito abaixo, e tire suas conclusões:

“Amigos, vou aderir à campanha. Espero que vocês também.
Como o país está uma beleza, perfeito, sem pobres (todos comendo três refeições), sem problemas, que tal não ajudarmos mais ninguém?

Afinal, para que alguém precisa de ajuda?

Estamos no paraíso e em companhia do "deus" Lula!
Achei sensacional. Vamos mandar os eleitores do Lula cobrarem dele, tudo o que vivem pedindo por telefone e outros meios.

Campanha : não dê panetone pro porteiro no natal ! Viva o Lula!

(...)

Milhões de caminhoneiros felizes, pagam barato por isso e rodam nas mais belas e bem asfaltadas estradas deste país!
Tá bonito.

Os 43 milhões de brasileiros que estão na linha da miséria já estão comendo três vezes ao dia, segundo Lula.

Não há desemprego. Está todo mundo feliz e por isso o reelegeram.

Então parem de encher o meu saco. Já suspendi as três instituições para as quais colaborava mensalmente, que atendiam pessoas e crianças carentes.

Chorando, uma diretora implorou por Deus que eu continuasse a colaborar. As crianças iriam passar fome.

Disse-me que era mentira do Lula. Argumentei que ela sim era mentirosa. Eu vi na tevê. Lula falou. Eu acredito no presidente, ou iria acreditar nela que não é ninguém.

Não colaboro mais com os empregados do meu prédio.

Não vou dar roupas, panetone etc. Não precisam mais.

Deixem o homem trabalhar!”

Na derrota, é que se conhecem os bons corações. E os maus também!

Nenhum comentário: