AGENDA CULTURAL

5.1.07

Apartamentos 908 e 909

Hélio Consolaro

O evento era poético; a cidade, charmosa; tudo estava zen, poesia e arte, mas nos apartamentos 908 e 909, no último andar do hotel, havia algo mais.

Um cheiro de Eros. A noite escura e estranhamente quente não era feita para dormir. Eram olhos nos olhos, sorrisos, horas a contemplar o outro, uma excelência.

Quartos contíguos. Entre o 908 e o 909, havia um túnel por onde passavam sentimentos fortes. Túnel sem escavação, sem entulho. Era um sentimento contramão, amor clandestino. Aliás, o homem do 908 até se esquecia e dormia na cama do 909, porque o quarto era feminino.

Até que numa noite, os hóspedes de outros quartos acharam peças de roupa no corredor: uma meia sem par e uma calcinha pelo avesso, além de um pedaço de brinco.

Revolveram ficar de tocaia, ver, apenas por testemunhar, por achar bonito. Dois participante do evento estavam levando a sério a poesia que era declamada durante o dia nas praças, nas escolas.

O amor não era só saudade, nem sentimento sem plenitude, estava lá, acontecendo. Não se sabe se, por desconfiança ou se naquela noite Eros falhou, nada aconteceu. Os dois quartos estavam silenciosos.

Durante o café da manhã, disfarçadamente, os hóspedes jogaram no piso do saguão do hotel a meia sem par, a calcinha pelo avesso o pedaço de brinco.

Todos tomavam café, mas de olho nos objetos, olhando de soslaio. De quem seriam?

Até que o casal 908 e 909 saiu do elevador, se dirigiu ao balcão para deixar as chaves. Olhou as peças, espantado, ela as catou e guardou-as na bolsa, sorrindo, sem pejo, na normalidade.

E foram desjejuar, felizes, com uma certa leveza. E todos voltaram para suas frutas, suas xícaras, seus biscoitos. Rindo de si mesmo.

De repente, um som de violino aromatizou o ambiente. Ninguém reclamava da refeição, tudo estava perfeito, cada um ouvia o ribombar meio descompassado de seu coração. O casal 908 e 909 se levantou, dançou, querendo levitar-se.



2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Hélio, como vai? Aqui quem fala é um velho (mas novo) aluno seu, teclando aqui do oriente...

Achei o seu blog e resolvi postar uma mensagem!

Não sabia que agora também estava escrevendo crônicas picantes.. (rs).

Por aqui está tudo bem, estou trabalhando em Tokyo.

Me envie um e-mail: fernandohu@bol.com.br.

Abraços.

Unknown disse...

Fernando...realmente o Hélio só escreve as tais "crônicas picantes"...rsrsrs...ele é cronista, vc esqueceu? Vive só da IMAGINAÇÃO E DA VIDA (dos outrosO COMO ELA É...rsrsr...
Está longe de ser verdade...em ação e principalmente em sentimento! Pode acreditar...tenho propriedade para escrever tal depoimento...rsrsrs...
Boa sorte no Japão! Visite a Universidade de Soka...será um privilégio!!!!!