AGENDA CULTURAL

12.4.07

Um padre imortal


Hélio Consolaro

A literatura não sobrevive apenas de best-sellers, ela precisa de escritores em todos os grotões. Como também ela não vive apenas de obras de alta literariedade, ter livros menos denso é uma necessidade para o leitor médio, que não é um iniciado na experimentação literária.

Seria ilusório pensar que a massa fosse delirar com as músicas de Bach ou consumir as canções biscoito-fino da MPB. Na música, há toda uma gama estética que atende ao gosto de uma sociedade organizada em classes sociais. Assim devia ser também a literatura. Que bom seria se houvesse muitos Paulos Coelho.

Outro pecado que nós cometemos é aderir à monocultura do eixo Rio - São Paulo, ou seja, àquela que está em diversas mídias mais globais, desvalorizando o artista local e regional. Quantas obras e quantos escritores foram soterrados pelo tempo porque não ganharam visibilidade.

Por isso, só de birra, vou homenagear um escritor de Mato Grosso do Sul. De lá é Manoel de Barros, mas precisou ficar velhinho, ganhar a bênção de poetas famosos para que lêssemos seus poemas, porque é de Campo Grande, fora do glamour cultural do eixo.

Mas não é dele que vou falar. Tecerei loas ao padre Afonso de Castro, presidente e chanceler da Missão Salesiana de Mato Grosso do Sul (padres salesianos) e foi recentemente empossado na cadeira 2 da Academia Sul-Mato-grossense de Letras.

Padre Afonso é doutor em letras, como o é Tito Damazo, presidente da AAL. Escreveu dois livros: A Poética de Manoel de Barros (1991) e Entre o Vale e a Imagem (2000), em que analisa o romance de Adonias Filho. Além de ter publicado outros livros de caráter religioso.

No site Por Trás das Letras, desta Folha, do qual sou coordenador, Pe. Afonso tem um belíssimo estudo do livro “Poemas Rupestres”, de Manoel de Barros.

Ele é do fundão de Mato Grosso (do Sul) como costumam dizer os paulistas. Um padre letrado à procura da imortalidade, que não ficou nos limites dos sermões como Vieira, foi além da sacristia, quis conhecer a arte profana. Quis ver de perto em que crêem os que não crêem, como disse Dom Carlos Maria Martini. Um escritor do interior.

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