AGENDA CULTURAL

6.5.07

Que tal matar no ninho?


Hélio Consolaro

Ainda tô na rua prestando atenção. A multidão tão burra e a chuva devagar/ Eu tava aqui pensando, sentado nessa praça. Tão burro e distante (La Carne)

Apesar de ser domingo, caro leitor, o assunto desta Entrelinhas não será nada saboroso.

Ninguém é obrigado a ser coerente, aliás, Mahatma Gandhi dizia que ninguém deve ser escravo da coerência. E para reforçar, Raul Seixas cantou Metamorfose Ambulante.

Mas a incoerência da multidão é demais, exagera, por isso Angel Ganivet, escritor e dramaturgo espanhol (1868-1898), escreveu: “Construir sobre a vontade de uma multidão é loucura; a vontade de um povo é como um relâmpago que dura um segundo”. A multidão pedia liberdade a Barrabás crucificação para Cristo! O povo continua o mesmo...

Veja, caro leitor, se não tenho razão: 55% dos brasileiros são a favor da pena de morte, conforme pesquisa do Datafolha, enquanto o Ibope constata que 46% dos brasileiros é contra o aborto em qualquer circunstância. Não sei se os 46% estão contidos nos 55%, mas a quantidade é bem contraditória.

Eles querem deixar o cara crescer para matar depois. Não seria melhor matar no ninho, ficaria mais econômico. Já que matar é a nossa meta.

Não sei, caro leitor. Há muita gente usando a Bíblia como desodorante, enfeitando estante com ela, como fazem com o crucifixo, porque um cristão, cujo mestre morreu condenado pela pena de morte injustamente numa cruz, não pode ser favorável a tal aberração.

Quem acredita no amor, não pode ser favorável à pena máxima. Quem acredita na conversão das pessoas, não pode sair gritando que quer a pena de morte.

Num debate em sala de aula, um aluno me disse:

- Quando defendo a pena de morte, uso o Velho Testamento...

Veja só, caro leitor, até um adolescente sabe manipular a Bíblia para fundamentar sua opinião, como sempre fez a humanidade. Imagine o que fazem os teólogos e profissionais do altar...

Este croniqueiro também é contra o aborto, sou radicalmente a favor da vida, inclusive contra a pena de morte, a favor da legalização das drogas como forma de combatê-la com eficiência, mas sou a favor da descriminação do aborto.

O Brasil é um país plurirreligioso, plurirracial, não tem essa de um grupo impor o seu pensamento aos demais por meio da lei. O Estado é laico, abaixo o medievalismo. Se precisar, farei discursos contra o aborto, mas também discursarei para defender o direito de liberdade de quem pensa diferente, tem outra concepção de vida.

Viver e deixar o outro viver também, quer dizer: amar o próximo.




2 comentários:

Jandira disse...

Olá Prof. Hélio... Olha só: lá em Portugal legalizaram o aborto até a décima semana, na capital do México até a 12ª... pois veja só: eu, na décima semana de gestação do netinho do prof. Radir, fiquei sabendo que teria um pimpolho que já tinha até nome: João Octávio!Com direito a boné personalizado e tudo o mais. Já pensou nesses países? Vão matar crianças que poderiam já ser chamadas pelo próprio nome!!!

Unknown disse...

Olá Cosolaro, um bom dia amigo para você. Apesar de ser totalmente a favor da legalização do aborto (vide a expressiva quantidade de abortos que são efetuados mensalmente sem a menor garantia de nada para a mulher)e radicalmente contra a pena de morte(não resolveu nada nos países que a adotaram), gostei muito de sua crônica. Aceite meus parabéns sinceros por tê-la escrito e continue assim pois a meu ver, esse é o caminho(crônicas, reportagens,pontos de vista, debates e porb aí afora).Abraço fraterno. Duilio Anderlini