AGENDA CULTURAL

11.11.07

Vestido de anjo

Antes da Corrida, obra de Amadeo Souza-Cardoso
Hélio Consolaro

Há momentos na vida em que o universo provoca em nós uma reflexão. Até mesmo nos engana para que cheguemos a ela.

Em 2004, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) alardeou aos quatro cantos que ia indenizar os presos políticos da ditadura militar. Aqueles que tiveram algum prejuízo. Houve lei de iniciativa do deputado Renato Simões (PT), aprovada pela Assembléia Legislativa e sancionada pelo então governador. Não se trata de precatório.

Naquele ano, até fui homenageado com outras pessoas pela Câmara Municipal de Araçatuba. Coisas que não pedi, vieram me oferecer. Até o momento, nada de cascalho. Passaram-se três anos e não recebi a tal indenização, em torno de R$ 20 mil.

No começo de outubro, um agente desses “bancos de portinha”, que financia dinheiro para aposentado, se apresentou, querendo comprar a minha indenização. E isso me fez procurar aquelas pastas velhas de documentos antigos. Dentre eles, achei meu certificado de Primeira Comunhão, datado de 13 de outubro de 1957.

Não foi possível vender minha indenização, porque se descobriu que o tal banco só comprava esses títulos do governo federal. Então, continuo duro.
Um engano me fez revolver o passado, fazer uma reflexão. Os enganos também nos ensinam, dão lições.

No dia 13, aquele sábado, depois do feriado de 12 de outubro, fui convidado para uma Folia de Reis no sítio do casal amigo Cláris e Marta, em Nova Lusitânia. Justamente na data em que eu completava 50 anos de Eucaristia. E fomos: eu, Japa e Consinha, que foi vestido de anjo lá na hora. Como nos velhos tempos da capela São Benedito, no bairro Santana, Araçatuba, onde fiz catecismo e a Primeira Comunhão, quando crianças eram vestidas de anjo.

Sei que é um fato que só me interessa. Talvez, caro leitor, esteja resmungando, dizendo: “Que eu tenho com isso, Consa?” Mas duvido que coincidências não tenham ocorrido com você também, nalgum dia.

Acompanhei a cerimônia religiosa meio de longe. E de repente começou a reza do terço. E aquela voz do rezador me era familiar. Na pressa, pois parecia que havia rezado milhões de terços na vida, pulava palavras, pronunciava-as pela metade. E o povo respondia direitinho.
Terço terminado, fui ver de perto quem era o rezador. E não era o catequista da antiga capela São Benedito, que me ensinara a rezar e coordenava as crianças da Cruzada? José Waltrick, o famoso Zé Padre, de Santo Antônio de Aracanguá.

Conversamos rapidamente. Depois, beberiquei uma cerveja, sozinho, pensando nas coincidências que vivi. Que lições eu podia tirar delas. Qual era a trama do universo?

Um comentário:

Cecilia Egreja disse...

Sempre venho passear por aqui, e acabo colhendo muitas flores.
Volto pra casa levando inspirações,
aprendizado, reflexões e algumas boas risadas.
Obrigada!