AGENDA CULTURAL

21.11.07

Vida e morte, morte e vida


Hélio Consolaro

A morte, por mais que a aceitemos, sempre nos causa impacto. E quando um amigo morre jovem, a lamentação é maior. Fernando Pessoa, ao perder seu grande amigo de 26 anos, o poeta Mário de Sá-Carneiro escreveu: “Morre jovem o que os deuses amam...”

Nós do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras pensamos como Pessoa sobre o falecimento de Alex Cardoso (nome literário de Alex Aparecido dos Santos Cardoso).

Se eu não estivesse viajando, com certeza, pela primeira vez, meu choro seria ostensivo ao lado do corpo de alguém. O telefonema do poeta Heitor Gomes com a notícia fúnebre deixou a florida Poços de Caldas cinza.

O espírito de busca levou Alex a pertencer ao Conselho de Leitores desta Folha. Era estudante do ensino médio de escola pública. Gostou tanto de ambiente de jornal que buscou o curso de Jornalismo no UniToledo, tornando-se dela estagiário.

Neste mundo cibernético, era Aledoso, e assim seus amigos o chamavam até 15 de novembro. Aliás, o chamam, porque no mundo virtual ninguém morre. E o seu blog ainda está no ar, com muitas mensagens póstumas de amigos. Como me disse José Marcos Taveira: aquele blog é um santuário. Alex não morreu.

No jornal, ele tinha comigo um tratamento muito formal: senhor daqui, professor dali. Eu não queria, mas ele insistia. Até que dei um golpe fatal num macho:

- Se não parar com isso, cara, vou passar-lhe a mão na bunda!

E assim nos tornamos mais amigos. E ele sempre querendo saber as coisas da literatura.

Certa vez, chamando a sua atenção para alguns erros de português cometidos em textos, meio choraminga, reclamou:

- Sou apenas um menino...

E era mesmo. E assim ele foi convidado para participar do Grupo Experimental. E adorou! Teve textos publicados no livro Experimentânea 6. E nele escreveu: Epitáfio, que foi lido em seu velório, provocando muito choro. Eis um trecho: “Quando a gente menos percebe, a vida é-nos tirada à força”.

Quando fui dar uma palestra à sua classe, a convite do professor José Marcos Taveira, 6/11, no corredor, conversamos muito sobre o futuro dele: mestrado, doutorado, escrever. E queria comprar o meu livro, mas estava duro. Vendi-o fiado.

Ao chegar, depois da viagem, recebi telefonema da Paula que, por recomendação da família, queria saber quanto me devia.

Nem soube o que responder. Tanta honestidade me chocou, disse-lhe que guardasse o livro como recordação e nada me devia. Realmente, os deuses chamam prematuramente para si as melhores almas.

3 comentários:

Zemarcos Taveira disse...

Salve, Consa. Belo texto, amigão. Uma linda homenagem. Se me permite, vou postar seu texto em meu blog. Abração.

Clara Vanali disse...

Consa, bonito texto.
Difícil entender a vida, difícil entende as mensagens de Deus. Alex deve ter sido um anjo na vida de todos que ele cativou. Pelo pouco contato que tive com ele, não foi difícil perceber que ele era um menino diferente, uma pessoa maravilhosa, inteligente e com uma energia muito boa.
Que ele fique com Deus, e seja uma luz na vida de sua família e amigos.
Grande bjo

Anônimo disse...

Consa! Gostei do texto!
Saudades das aulas de Gramática às terças de manhã para o pessoal da Redação... Lembra?