6.1.08
Colega de Deus
Hélio Consolaro
Aproveito a data, Dia de Reis, quando se festejam os reis magos Baltasar, Melchior e Gaspar para fazer uma reflexão sobre o poder. Não se sabe ao certo se eles eram reis mesmo ou apenas magos. Nem chegaram no mesmo dia do nascimento do menino Jesus, talvez, a visita tenha se dado quando o garoto já andava.
Não importa se os magos eram reis. Bem diferentes de Herodes, não perseguiram, nem determinaram o controle da natalidade. Naquela época, para que não houvesse tantos pobres, os reis mandavam matar as criancinhas plebéias. E o menino Jesus seria uma das vítimas.
Os reis magos chegaram humildes, reconhecendo a nova divindade. Não mandavam na área, eram visitantes. Essa é a simbologia da presença deles no presépio. Se existiram ou não, se eram apenas magos não importa à liturgia, seguiram mesmo a estrela.
Ajoelhar-se é uma ação dos subalternos, dos humildes. Quem é arrogante, prepotente não o faz. Talvez esteja aí a dificuldade dos poderosos: dobrar-se diante de um ser superior, aliás, para eles não há superiores, pois Deus é apenas um colega. Não seria por isso que o céu é prometido apenas aos pobres?
A gente começa a aprender a dobrar a espinha aos pais, quem nos cria, e aos mais velhos. Depois, ao professor, na escola. Assim, o princípio da autoridade é interiorizado. Exageramos ao tratar Deus, a exemplo do tratamento dado pelos servos medievais ao suserano, de senhor: “Jesus é o meu Senhor”. Daí aquela outra frase: “temente a Deus”. Como humanizamos a Terra, que virou essa coisa, fazemos o mesmo com o céu, repetimos em nossas projeções a mesma hierarquia.
Se Deus não é amor, mas um cobrador de posturas, um mandão, o nosso relacionamento com Ele só pode assemelhar-se ao puxa-saquismo. Então, rezar e orar não é um relacionamento entre Criador e criatura, mas de subserviência de um filho bastardo que reivindica reconhecimento paterno.
Quando explico a literatura da Idade Média aos meus alunos, sempre digo que, apesar da inspiração divina, a escrita da Bíblia está contaminada pela cultura da época em que foi escrita, por isso a leitura dela não pode ser feita ao pé da letra, como fazem os fundamentalistas. E prossigo: manipulamos a Palavra Deus e a própria imagem do Criador de acordo com os interesses dos poderosos de cada época, já que no século 4.º, a igreja cristã abandonou os pobres. Não foi Constantino que se converteu, foi a igreja que aderiu.
Este croniqueiro acha que Deus seja seu amigo, mas não que se sinta poderoso. Na verdade, porque tenta (nem sempre consegue) ser tão humilde quanto Ele.
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2 comentários:
Olá Prof. Hélio... Tomei a liberdade de reproduzir parte de seu texto em meu blog - com os devidos créditos, claro. http:\\cotidianoporjandira.blogspot.com
Até!!!
Imagine... Na verdade passo sempre por aqui... Acho mto interessantes as suas crônicas... Bjos e até o próximo post... rsrs
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