AGENDA CULTURAL

17.2.08

Bibliotecas foram extintas


Hélio Consolaro

Meus 33 leitores sabem de meu apego aos livros, principalmente às bibliotecas públicas. Por elas, conheci a leitura. Em minha época de estudante, freqüentei a biblioteca municipal Rubens do Amaral e a do antigo I.E., ambas de Araçatuba.

Sei que essa apologia ao livro tem muito de positivista e também tenho consciência de que ele, assim de papel, não resistirá por muito tempo como portador de obras. Além disso, não devoro livros com sofreguidão, porque a leitura também aliena e nem todos os livros prestam, mas sempre estou lendo-os e neles este croniqueiro busca um pouco de sabedoria.

Por tudo isso, fico chateado quando leio notícias de que bibliotecas foram fechadas, como aconteceu recentemente na cidade de São Paulo. A Prefeitura da maior cidade do Brasil, um dos principais pólos culturais da América Latina, arrumou um modo maroto de acabar com o problema do baixo acesso de leitores às suas bibliotecas. Em vez de investir na compra de livros novos, maior acesso à internet, formação de pessoal e tornar esses espaços mais dinâmicos e atraentes, o prefeito Gilberto Kassab (DEM – ex- PFL) resolveu extinguir quatro delas. Enquanto o carnaval fazia nas ruas a apologia aos livros, o decreto 49.172 era publicado em 31/1, na véspera da grande festa popular: http://www.brasilquele.com.br/texto_ler.php?id=2304&page=9

Não, caro leitor. Ele não lacrou portas, nem implodiu prédios. A prefeitura de São Paulo extinguiu quatro tradicionais bibliotecas públicas da cidade, mudando nomes e finalidades: a Biblioteca Infanto-Juvenil Chácara do Castelo agora atende pelo pomposo nome de Centro de Conservação de Acervo (acervo, nessa concepção, é para ser guardado e conservado, e não para ser difundido e apropriado). A Biblioteca Infanto-Juvenil Arnaldo de Magalhães Giácomo passou a ser o Centro de Apoio Educacional, subordinado a uma escola municipal. Já a Biblioteca Infanto-Juvenil Zalina Rolim virou Casa de Cultura e Convívio da Vila Mariana, vinculada à Subprefeitura do bairro. E a Biblioteca Infanto-Juvenil Cecília Meireles foi substituída pelo Centro de Memória e Convívio da Lapa. São Paulo que se gabava de possuir uma das maiores redes de bibliotecas municipais da América Latina, ja era.

Enquanto isso, o governo do Rio de Janeiro anunciou que a Secretaria Estadual de Educação repassará R$ 15 milhões para a reforma de duas das principais bibliotecas do Estado, uma na capital e outra em Niterói. Nem tudo está perdido. O governador é Sérgio Cabral (PMDB).

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