AGENDA CULTURAL

27.5.08

Casamento diferente


Hélio Consolaro

Não somos velhos, enquanto buscamos. (Marquês de Maricá)

Não sei, caro leitor, se já teve um casal de amigos que completaram 20 anos de namoro, só depois se casaram. Não falo de jovens de 35 anos, mas de dois madurões: o noivo tinha mais de 60 e já era avô.

Ela, evangélica, e ele, ateu, daqueles encardidos; além de espanhol, corintiano. Nunca se viu tanta coisa ruim junta. Este croniqueiro e a Japa foram padrinhos no cartório no dia 19 de maio, em Araçatuba.

Em duas décadas de namoro, ela conseguiu apenas que ele se tornasse um ateu pentecostal:

- Já falei, eu sou ateu, graças a Deus! Amém, aleluia!

Sendo amigo dele, é uma moça; tendo-o como adversário, uma ferida brava. Toda pessoa tem um amigo assim. Caso na sua roda não haja ninguém com esse perfil, tenho a impressão de que você, caro leitor, seja o intransigente. Não se preocupe, cada um veio ao mundo para cumprir um script.

Nesse namoro prolongado, ele e ela sempre dormiram em casas separadas. Ele dizia que tinha vocação para ser solitário, não era de conviver. Os amigos cochichavam maldosamente:

- Não sei não, acho que ele ainda não bebeu na fonte...

- Só depois de casada! – teria dito o puritanismo evangélico.

Dia 20, casaram-se no religioso em São Paulo. Os amigos se perguntavam:

- Será que vão a Sampa naquele Fusca 69, cheio de badulaques petistas? O ano do carro é sugestivo, hein!?

Nada! Viajaram num Corola, último tipo, de parentes da família dela. Não sei se amarraram latas atrás, à moda antiga. Casou-se na presença de três pastores. Mais parecia uma sessão de exorcismo. Como o noivo era muito político, um dos pastores fazia pregações contra o PT, com base na revista Veja, mas amigo da família dela; os outros dois eram petistas, escolhidos pelo noivo. Afinal, o Lula tem maioria, mantiveram a proporcionalidade. É ateu, mas freqüentava o templo. Houve festa boa, muito chique, oferecida pelos parentes dela; bem diferente da simplicidade voluntária do noivo.

Na volta da capital, ele deixou seu apartamento e sua solidão e foi morar na casa dela, passando e-mail para os amigos, comunicando a mudança de endereço. Então, o fuxico correu solto:

- Que solidão, que nada!

- Não falei! A coisa não rolava antes!

Se rolava ou não rolava, é uma questão de foro íntimo, como dizem os advogados. Na verdade, eles estão tentando provar que casamento é a união de diferentes. O Heitor Gomes, Poeta das Multidões, afirma sempre que Ventura Picasso e Edna Maciel Rufino formam um casal com unicidade. Não se imagina um sem o outro.

Vai dar certo. A vida não dará tempo para discórdias, a felicidade é para ontem. Será um casamento para sempre.


5 comentários:

Graziela Nunes disse...

bravíssimo!!!!

Ventura Picasso disse...

Só vc mesmo hein liguarudo? Os detalhes devem ser guardados, mas se o pastor não fosse petista, a noiva estaria até agora me esperando no altar. Eu sou o bom...
Ela garante.

Nathália Bragalda disse...

cONSA, LÊ MEU BLOG, FALEI DE VOC~E, UM ABRAÇO

Anônimo disse...

Adorei a crônica Hélio, super divertida,rs.

Té mais...

Bjoxxxx***

Beatriz Nascimento disse...

Adorei a crônica Hélio, super divertida,rs.

Té mais...

Bjoxxxx***