AGENDA CULTURAL

25.5.08

Protegei-me de mim mesmo





Hélio Consolaro

Eu estava lendo um salmo, não rezava, pois minha postura naquele momento não era de oração.

Não sei o leitor conhece tais orações bíblicas. Salmos é um livro bíblico de 150 capítulos, são poesias religiosas tratadas como orações pelo Judaísmo, pelo Cristianismo e pelo Islamismo. A maioria deles tem a autoria de Davi.

Tais textos foram compostos no decorrer de um milênio, em momentos difíceis do povo hebreu, por isso pedem proteção de todo o jeito, porque a perseguição era tamanha.

O salmo que eu lia pedia proteção para isso, para aquilo. Na hora, eu pensei: “faltou um pedido, o principal”. Quem nunca vasculhou o seu próprio eu, a sua alma, fez aquele rastreamento, vai dizer que este croniqueiro é doido da perna esquerda. Faltava um verso: “protegei-me de mim mesmo”. Quase sempre, nós somos o inimigo de nós mesmos, não adianta arrumar culpado no exterior.

Quantas vezes juramos que estamos com a verdade, que nossa análise é a melhor, temos a convicção de que desvendamos o mistério. Mas onde está a verdade? Fora ou dentro de mim? Se cada espécie animal vê o mundo de um jeito, nós o vemos como é ou estamos limitados às nossas antenas: os cinco sentidos.

A pesquisadora Temple Grandin, que é autista, desenvolveu pesquisa a respeito. E revelou que o autista vê o mundo como os animais, só se fixam nos detalhes. E nós ousamos pregar a verdade, julgamos os outros e até muita gente diz que o outro está condenado ao inferno. Que pequenez, que mesquinharia.

Numa leitura, me deparei com uma história muito interessante. Ela mostra como nos iludimos.

Um sujeito andava a pé na escuridão, de repente deu a impressão de que não havia chão debaixo de seus pés. Agarrou-se a um galho e conseguiu impedir a sua queda, mas ficou aterrorizado, não sabia a profundidade do abismo.

Gritou por socorro, mas nada de ajuda, só ouvia o eco de sua voz. Isso lhe aumentava o medo. Imaginava maior ainda o abismo. Tinha medo do galho se quebrar, suas mãos estavam enregeladas com o frio. Seria difícil continuar dependurado no galho até o dia amanhecer. A qualquer hora cairia e morreria. Morrendo a cada minuto, sentiu o galho escapando de suas mãos.

Ao cair, tentou dançar como tentativa de flutuar no ar e não se machucar tanto ao chegar ao chão. Descobriu que não havia abismo. E havia sofrido a noite toda como se estivesse dependurado num galho à beira de um suposto abismo.

Às vezes, os problemas que nós criamos não existem, são frutos de nossa imaginação. Enfrentá-los com frieza é um bom caminho.

Nossa, o Consa já está virando guru da auto-ajuda...

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