AGENDA CULTURAL

22.6.08

Carro bom pra quê?


Hélio Consolaro

Nunca me relacionei bem com carros. Se houver alguém do lado que queira dirigir o meu, entrego a direção. Há gente que, quando compra um carro, pode até ser usado, sai mostrando pra pai, mãe, irmãos e cunhados a nova aquisição. Não condeno, mas já comprei carros zero km e não fiz tanto escândalo.

O carro, para mim, não é a extensão de minha pele, nem tento esnobar status com ele. Confesso, caro leitor, que não sei se esse comportamento é limitação provocada por minha pobreza ou simplicidade voluntária.

Quando menino, nos pontos de táxis, os carros eram pretos: Mercury. Com Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente do Brasil de 1956 a 1961, surgiram outras marcas, fabricadas no Brasil: Fusca, Dauphine, DKW, Chevrolet, Ford, Simca Chambord. As crianças viviam disputando entre si quem reconhecia na rua todas as marcas existentes. Com certeza, agora, não conseguiriam mais essa façanha, pois a variedade de marcas cresceu muito.

Voltando ao presente, gosto de andar trepado, ter minha autonomia de ir e vir com rapidez. Só não gostaria de voltar a andar de moto ou bicicleta. E como já andei em duas rodas! Bicicleta, mobilete e moto. Só larguei da moto porque caí algumas vezes, e depois dos 40 não é bom teimar. Andar a pé, só nas caminhadas matinais.

No tempo de juventude, ouvia muito a frase:

- Carro é mais uma família! Dobram as despesas...

A coisa mudou, pois o crédito no governo Lula foi democratizado, estufou as ruas de carro. A classe média aumentou de tamanho. Engraçado que é só você, caro leitor, afundar para a periferia da cidade, vai observar que os carros velhos mudaram de garagem. Carro chique, vai perceber como Del Rey, Brasília, Passat, Elba, Monza viraram vaso de alpendre nos bairros. O dono sai para trabalhar de moto, de bicicleta ou ônibus durante a semana; nos fins de semana, vai ao supermercado com a mulher e passear com a família no famoso “pois é”. Não paga nem IPVA! E no vidro um selo: “Patrimônio de Jesus!”

Quando Raul Seixas lançou a música “Ouro de Tolo”, havia uma estrofe assim: “Eu devia agradecer ao Senhor/ Por ter tido sucesso/ Na vida como artista/ Eu devia estar feliz/ Porque consegui comprar/ Um Corcel 73...” Este croniqueiro tinha um Fusca 69. Não era um homem bem-sucedido.

Então, caro leitor. Agora que posso ter o carro do ano, incrementado, vidro com insufilm, coisa e tal, os preferidos das marias-gasolina, preciso usar gasolina azul, senão a coisa não anda... Quando Deus dá a farinha, o diabo carrega o saco. Eta vida marvada, siô! Carro bom pra quê?

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sempre disse que com um Fusca estaria feliz. Mas o meu bolso é que ficaria triste, porque vai uma grana lascada pra sustentar carro véio. E carro novo tbm gasta (quando não é gasolina, é imposto). Eu só não digo que minha vida é mais feliz com trasporte coletivo, porque estaria mentindo. Eita vida marvada mesmo!

Anônimo disse...

Ter um veículo é dificil, mas o mais difícil é mantê-lo.
Ter um carro é ter o custo de uma família, como já ouvi ...pesa!