AGENDA CULTURAL

21.6.08

É o Iraque!


Hélio Consolaro


O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nestes dias de clima temperado, mas a sexta-feira não deixou de ser o Dia Nacional da Cerveja, embora fossem consumidos alguns litros de vinho. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos nervosamente.

- Uma cerva bem gelada!

- Uma dose de conhaque Presidente!

- Uma porção de peixe frito!

Seu Sugiro gritou lá da calçada:

- Garantido, né! Sugiro espetinhos de filé miau, é gostoso. Cerveja, vinho, aguardente, conhaque, não importava o tipo, o primeiro gole era sempre de santo Onofre. Isso deixava Dona Assunta irritada, porque a toda hora se fazia necessária uma limpeza do ladrilho.

A dupla Marmita & Passa Fome tocavam um arrasa-pé, com sanfoneiro especial. Eram músicas de Mário Zan que tanto animam as festas juninas realmente brasileiras, sem essa de tocar música country.

A meninada, do lado de fora do Bate Forte, soltava traques, estalos, fósforos coloridos. De repente, jogaram um petardo dentro do Bate Forte. Chegou a balançar a imagem do santo e quebrou vidros das vitrines do balcão de doces.

Aquele fumaceiro. Gente tossindo. Marmita & e Passa Fome tiveram o aparelho de som danificado, pararam de cantar. Burguês gritou:

- Isso é um atentado terrorista!

Banguela exagerou:

- Cara, está parecendo o Iraque!

- A bomba veio lá da concorrência – gritou Mimoso.

Na porta do Bate Franco, os barrigudinhos se aglomeravam, querendo saber quem foi, quem não foi. De repente a viatura da polícia chegou com todas as sirenes abertas.

Mãos ao alto. Revista geral. Perguntas nervosas. De onde veio a bomba? Mães da vizinhança gritavam por seus filhos.

- Não falei, Diego, que não presta brincar com fogos!

E à revelia dos Estatutos da Criança e do Adolescente, petelecos voavam das mãos das mães.

De repente, um policial trouxe Subversivo algemado, pois foi encontrado num terreno baldio, escondido.

Quando adentrou o Bate Forte, com aquela cara de raiva, esbravejou:

- Sou corintiano, estou doente, não posso tomar nada, quero acabar com esse boteco!

Faca Amolada ameaçou esmurrar Subversivo, mas foi impedido pelo policial. Como pode! Esse enlouqueceu! Bicho Grilo tomou a palavra:

- Gente, Subversivo, ele está em crise...

Depois de o boletim de ocorrência realizado, a calma voltou ao Bate Forte. E ouviu-se o grito de Faca Amolada:

- Apesar dos prejuízos, rodada por conta da casa!

Na verdade, Caneta Louca repôs o vidro quebrado e consertou o som dos músicos nas marcações da comanda. Eta bicho ladrão!

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