Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nestes dias de clima temperado, mas a sexta-feira não deixou de ser o Dia Nacional da Cerveja, embora fossem consumidos alguns litros de vinho. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos nervosamente.
- Uma cerva bem gelada!
- Uma dose de conhaque Presidente!
- Uma porção de peixe frito!
Seu Sugiro gritou lá da calçada:
- Garantido, né! Sugiro espetinhos de filé miau, é gostoso. Cerveja, vinho, aguardente, conhaque, não importava o tipo, o primeiro gole era sempre de santo Onofre. Isso deixava Dona Assunta irritada, porque a toda hora se fazia necessária uma limpeza do ladrilho.
A dupla Marmita & Passa Fome tocavam um arrasa-pé, com sanfoneiro especial. Eram músicas de Mário Zan que tanto animam as festas juninas realmente brasileiras, sem essa de tocar música country.
A meninada, do lado de fora do Bate Forte, soltava traques, estalos, fósforos coloridos. De repente, jogaram um petardo dentro do Bate Forte. Chegou a balançar a imagem do santo e quebrou vidros das vitrines do balcão de doces.
Aquele fumaceiro. Gente tossindo. Marmita & e Passa Fome tiveram o aparelho de som danificado, pararam de cantar. Burguês gritou:
- Isso é um atentado terrorista!
Banguela exagerou:
- Cara, está parecendo o Iraque!
- A bomba veio lá da concorrência – gritou Mimoso.
Na porta do Bate Franco, os barrigudinhos se aglomeravam, querendo saber quem foi, quem não foi. De repente a viatura da polícia chegou com todas as sirenes abertas.
Mãos ao alto. Revista geral. Perguntas nervosas. De onde veio a bomba? Mães da vizinhança gritavam por seus filhos.
- Não falei, Diego, que não presta brincar com fogos!
E à revelia dos Estatutos da Criança e do Adolescente, petelecos voavam das mãos das mães.
De repente, um policial trouxe Subversivo algemado, pois foi encontrado num terreno baldio, escondido.
Quando adentrou o Bate Forte, com aquela cara de raiva, esbravejou:
- Sou corintiano, estou doente, não posso tomar nada, quero acabar com esse boteco!
Faca Amolada ameaçou esmurrar Subversivo, mas foi impedido pelo policial. Como pode! Esse enlouqueceu! Bicho Grilo tomou a palavra:
- Gente, Subversivo, ele está em crise...
Depois de o boletim de ocorrência realizado, a calma voltou ao Bate Forte. E ouviu-se o grito de Faca Amolada:
- Apesar dos prejuízos, rodada por conta da casa!
Na verdade, Caneta Louca repôs o vidro quebrado e consertou o som dos músicos nas marcações da comanda. Eta bicho ladrão!
Nenhum comentário:
Postar um comentário