
Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava lotado de barrigudinhos. Todos chegavam e faziam uma homenagem ao santo, o Onofre, jogando um gole no chão. Lá do seu nicho, a santidade observava as miudezas humanas. Dona Assunta morria de raiva desse ritual, pois precisava a toda hora enxugar o chão. Homem suja, mulher limpa. Era o seu discurso feminista.
Faca Amolada e Caneta Louca, com o clima temperado, serviam muito vinho, mas os pedidos de cerveja vinham aos gritos:
- Uma bem gelada aqui pro degas!
- Uma porção de lingüiça calabresa!
Seu sugiro gritou lá da calçada:
- Sugiro espetinhos de filé miau! Muito bom, né! Até espetinhos de queijo, né! Variar é bom, né!
E os pedidos choviam para alegria do japonês churrasqueiro. Dona Assunta administrava a cozinha; Amelinha, no quinto dia útil do mês, passava o rodo no caixa.
Amelinha desenhou dois corações na parede do boteco: Dia dos Namorados. Magrão já deu nome:
- Corações apaixonados: Amelinha & Caneta Louca.
- E quando será o casamento?
Como resposta, apenas sorrisos amarelos e tímidos.
E o blablablá de bêbados continuou.
- Por que os casais não continuam enamorados? – quis saber Banguelo. Depois de alguns anos de casados, nem se lembram mais desse 12 de junho.
Burguês quis contar uma piada:
- O casal de namorados estava na Praça Rui Barbosa, naquela época que dava para ficar à noite por lá. E a mocinha elogiou a Lua. E o rapaz respondeu que o luar estava com inveja dela, porque era mais bela.
- Que coisa romântica! – observou Mirto Fricote.
E Burguês continuou:
- Outro dia, depois de anos de casados, os dois passavam à noite pela mesma praça. E ela novamente observou a presença da Lua. O rapazinho, que já era um senhor agrisalhado, respondeu: “Nunca viu a lua, não, sua besta!”
Todos riram. Num canto, Dona Moranga construía uma bruxa, juntando peças, costurando à mão.
Jackie Abelhuda quis dar uma interpretação psicológica ao ato:
- As bruxas são construídas pelos homens, machos!
Ninguém prestou muita atenção à frase. Nisso, Subversivo fez aquela observação maldosa:
- Uma bruxa construindo outra!
Miltão, o marido, se levantou da cadeira, pegou o Subversivo pelo colarinho, levantando-o do chão por várias vezes, dando-lhe tapas na cara. A turma do deixa-disso entrou
Faca Amolada gritou logo a senha da paz:
- Rodada por conta da casa!
E o sururu terminou, mas Magrão ficou observando o Caneta Louca, se marcava nas comandas aquilo que havido sido gratuito.
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