AGENDA CULTURAL

27.9.08

Espinheira

David Lampião (com chapéu), candidato a prefeito de Araçatuba, ao lado de seu vice Fábio Dias. Foto (Patrícia Bracale) com alguns membros do Conselho Municipal de Cultura: Vanessa Manarelli, Simone Gava Leie, Eliete Godoy de Almeida (vestido estampado - presidenta), Alberitna Vicente, Wanilda Borghi e este croniqueiro (com óculos)

Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nesta sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Cada um pedia a sua bebida e jogava o primeiro gole para o santo, o Onofre, que os observava lá de seu pedestal.

Faca Amolada e Caneta Louca corriam, esbaforidos, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva geladérrima!

- Porção de queijo tijolinho!

E, antes que Seu Sugiro reclamasse, pediram:

- Cinco espetinhos de filé miau, por favor!

Dona Assunta administrava a cozinha; Amelinha era o caixa, mais passava o cartão de crédito e marcava do que recebia. E assim estava funcionando mais uma microempresa brasileira.

De repente, chegaram os candidatos David Lampião, vestido a caráter, e seu vice, Fábio Dias.

A dupla Marmita & Passa Fome estava cantando um pagode sertanejo. Todos os barrigudinhos saudaram os candidatos. Subversivo puxou a conversa:

- Olha, cara! Estou fazendo sua campanha! Sou contra a maré, então voto em vocês! Vamos fundar o PSTU depois das eleições?

Pá de cá, pá de lá! Subversivo perguntou:

- Quero santinho de vocês, cara! Só de boca não dá!

David respondeu que não tinha. Era só gritar 19. E ensinou:

- D por D, vote David!

Nisso, a dupla, entendendo o momento, começou a cantar "Espinheira", de Duduca e Dalvan:

- Eta espinheira danada / Que o pobre atravessa pra sobreviver / Vive com a carga nas costas / E as dores que sente não pode dizer.

Todos bateram palmas. David Lampião tirou seu chapéu de couro e foi ao orgasmo. Fábio Dias queria explicar o plano de governo. E a música continuou:

- Sonha com as belas promessas / De gente importante que tem ao redor /Quando entrar o fulano / Sair o ciclano será bem melhor / Mas entra ano e sai ano / E o tal de fulano ainda é pior / Esse é meu cotidiano / Mais eu não me dano, pois Deus é maior.

E o refrão era cantado por todos:

- O mundo não acaba aqui / O mundo ainda está de pé!

Miltão estava amargurado num canto. Tinha perdido a boquinha na prefeitura.

Seu cargo de aspone havia dançado. Prefeito cassado, a vice passou o facão. Gritaram para o Miltão:

- Vai trabalhar, vagabundo!

Nem preciso dizer, caro leitor, que o mundo virou no Bate-Forte. Cadeiras voadoras, pescoções foram distribuídos a granel. No desespero, Faca Amolada gritou:

- Rodada por conta da casa!

E todos voltaram para seus copos. Afogando seus desejos.

Um comentário:

Sylvia Feitosa disse...

muitio boa crônica e oportuna!
Faz parte do seu livro não é?

mas..
" enquanto Deus me der a vida levarei comigo esperança e fé.." Rsrsrs