AGENDA CULTURAL

28.9.08

Formar o mestre


Hélio Consolaro Muito se tem falado sobre a formação do professor, mas pouco se tem feito para que ele se torne mestre. Não me refiro a curso de mestrado, mestre é aquela pessoa que é ouvida e é referência em seu grupo ou comunidade. Não tiro a responsabilidade do professor, porque nesta crônica focalizo a mantenedora, os dirigentes. Apresento a visão de quem tem a carteira assinada. A verdade não mora apenas num lado. Se o professor erra ao procurar uma classe ideal, apenas com alunos nota 10, a escola, também ao querer um professor pronto, perfeito. O mestre é um profissional em construção, porque ele aprende com o seu próprio erro, mas se errar, às vezes, nem pais e nem mantenedora compreendem suas falhas, não lhe dão nova chance. Diante dessa realidade ameaçadora, o professor se encolhe, e o mestre nunca aflora. Os mestres surgem em momentos de crise, isso em qualquer microcosmo, mas precisa ter um clima de companheirismo. Nada construtivo se cria se faltar a liberdade. Já vi professor ser demitido porque foi sincero numa reunião pedagógica, apontou erros na escola. Em vez de a mantenedora agradecer, porque tem um colaborador, o viu como inimigo, por isso deu-lhe aviso prévio. Nalgumas escolas particulares, o professor vive com a espada de Dâmocles passeando pelos corredores, sempre tenso, porque alguns proprietários ou instituições mantenedoras fazem disso um método de administrar sua “empresa”: a porta sempre é a serventia da casa. E, às vezes, nas reuniões pedagógicas, enaltece-se a solidariedade e o companheirismo, fala-se em formar alunos cidadãos e portadores de senso crítico. Vive-se a hipocrisia. Uma escola particular é uma empresa, mas diferenciada. Seu produto final não é detergente ou roupa, mas pessoas bem formadas. A responsabilidade dela com a sociedade precisa de mais excelência. A sua ação não pode ser norteada apenas pela estreiteza da relação empresa-cliente. Como o professor vai formar cidadãos para a responsabilidade, se no final de cada bimestre se faz o ibope do corpo docente entre os alunos. Como educar crianças e jovens, pondo-lhes limites, num ambiente em que são tratados como reis e rainhas (clientes)? Fica mais fácil dizer depois que o mundo está perdido. Qualquer antipatia criada por uma atitude do professor, que pode ser superada ao longo do ano letivo, é julgada imediatamente pelos alunos. Conflitos são normais no processo ensino-aprendizagem. Como são clientes, o professor é logo despedido. Plantam-se rabanetes em vez de ipês. Professor acuado, oprimido, não forma cidadãos para a responsabilidade, não consegue passar isso com posturas e atitudes. Formar um professor não é apenas encher-lhe de cursos, ocupando-lhe as horas vagas e o recesso escolar. Uma reunião pedagógica bem feita, uma conversa franca entre o professor e o diretor da escola (ou coordenador), a própria reunião de pais formam também o profissional. O cotidiano de uma escola é uma grande aprendizagem para um professor em início de carreira, em que o mais velho passa sua experiência ao mais novo. Mais como professor, menos como cronista, deixou aqui esta reflexão, para que nosso cotidiano escolar seja mais prazeroso e sorridente. E tenhamos muitos mestres.

2 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Cadê o tempo do NÃO, NÃO e do SIM, SIM ?
Todos nós temos que participar da educação uns dos outros, seja em que posição estiver.
A responsabilidade primeira são dos pais, e é claro que erramos.
O que acontece na minha casa reflete para fora dela, seguindo esta onda de energia atingimos e somos atingidos.
O trabalho é conjunto, o respeito com a criança e os profissionais é imprescindível.
Com disciplina, responsabilidade, respeito e amor, só podemos nos tornar pessoas melhores.
E com certeza "pessoa", não é um "numero"...

HAMILTON BRITO... disse...

Assim é no mundo dos negócios.
A mantenedora explora um nicho do mercado...é comerciante.
Nesse mundo não há espaço para a ética de princípios.
O que dita a ética de resultadodos?
O que se vê.