AGENDA CULTURAL

28.9.08

Solitude aos 60 anos


Hélio Consolaro

O sol está brilhando muito claro

Porque hoje é seu aniversário
Arnaldo Antunes / Edgard Scandurra

Na terça-feira, o sol se levantou e se pôs, o dia teve 24 horas. O universo era o mesmo, porque, nessa imensidão de meu Deus, tudo é meio contraditório: ao mesmo tempo em que as coisas mudam tão rapidamente, tudo permanece tão igual...

Anos, meses, semanas, enfim, o calendário não existe, é uma abstração humana. A única unidade de tempo verdadeira é que o sol nasce e se põe, mas ainda assim, isso só ocorre para os terráqueos. No dia em que o Planeta desaparecer, nem isso haverá. O infinito é inimaginável.

Veja, caro leitor, como ficou este croniqueiro na terça-feira. Minha mãe disse que não esperava ver um filho seu completar 60 anos. E eu achava que, com essa idade, só haveria a bengala para me divertir; e estou todo serelepe. Chã filosofia, mas ela borbulha nossas mentes, sem se preocupar com a classificação de si mesma.

Tirei a data de meu aniversário do Orkut, ensimesmei-me. Eu queria me devorar a mim mesmo. Nada de festa e cumprimentos! Como um sujeito festeiro, que puxou ao avô materno, não ia comemorar o seu aniversário? Assim, na surpresa, a casa se encheu à noite a cada toque da campainha.

Sei que esses sentimentos não são exclusivamente meus, muita gente ao chegar a essa idade os teve. E os terá. Este croniqueiro não estava de rodas pra cima. Talvez fosse a chegada do pajé, ele esteja me tomando para si, mas isso nada tem a ver com a exatidão de certa idade, porque o tempo tem significados diferentes para cada um. Como é bom curtir a solitude, que não é o silêncio, mas a ausência de linguagem.

A solitude se evidencia com a chegada da idade. Ficamos mais próximos da condição humana. Toda pessoa está só. Podemos estar rodeado de pessoas, mas ninguém nascerá, adoecerá, viverá ou morrerá em nosso lugar. Ser sábio é aceitar isso.

A multidão querendo brincar comigo, e eu querendo ficar comigo mesmo, fugindo para o monte, buscando refúgio. “Se ficamos calados, quando deveríamos falar, não estamos vivendo a disciplina do silêncio. Se falamos, quando deveríamos estar calados, novamente erramos o alvo.” E quando sei qual é o momento? Basta ouvir a voz de dentro. Às vezes, ela fica tão inaudível que preciso buscar o auxílio de alguém.

Talvez essa reflexão seja considerada por você, caro leitor, uma idiotice. Principalmente se é um tagarela incorrigível, que não se volta para si. Entra e sai de igrejas sem ter uma experiência divina. Mas quem sou eu para julgá-lo? A mãe entende cada filho.

Os amigos beberam a bebida que trouxeram, declamaram os poemas que ofereci e se foram. Deixando ao croniqueiro alguns presentes, materialização do bem-querer. Dormi. Mais do que nunca, devo agradecer cada vez que o sol dorme debaixo de minha cama.

2 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Blim-blom...
O que é o tempo e o espaço? Difícil entender...
Mas o bom é ser lembrado e querido,
Que o tempo passe e nos deixe melhor,
Que o espaço do nosso coração encha de amigos e amores!!!
Felicidades infinita.

Beatriz Nascimento disse...

Ultimamente tenho lido mtas crônicas, gostei mto da sua, me fez refletir.
Meus parabéns atrasado^^.

Té mais...

Beatriz