
Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos nesta sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Cada um pedia a sua bebida e jogava o primeiro gole para o santo, o Onofre, que os observava lá de seu pedestal.
Faca Amolada e Caneta Louca corriam, esbaforidos, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:
- Uma cerva geladérrima!
- Porção de queijo tijolinho!
E, antes que Seu Sugiro reclamasse, pediram:
- Cinco espetinhos de filé miau, por favor!
Dona Assunta administrava a cozinha; Amelinha era o caixa, mais passava o cartão de crédito e marcava do que recebia. E assim estava funcionando mais uma microempresa brasileira.
De repente, chegaram os candidatos David Lampião, vestido a caráter, e seu vice, Fábio Dias.
A dupla Marmita & Passa Fome estava cantando um pagode sertanejo. Todos os barrigudinhos saudaram os candidatos. Subversivo puxou a conversa:
- Olha, cara! Estou fazendo sua campanha! Sou contra a maré, então voto em vocês! Vamos fundar o PSTU depois das eleições?
Pá de cá, pá de lá! Subversivo perguntou:
- Quero santinho de vocês, cara! Só de boca não dá!
David respondeu que não tinha. Era só gritar 19. E ensinou:
- D por D, vote David!
Nisso, a dupla, entendendo o momento, começou a cantar "Espinheira", de Duduca e Dalvan:
- Eta espinheira danada / Que o pobre atravessa pra sobreviver / Vive com a carga nas costas / E as dores que sente não pode dizer.
Todos bateram palmas. David Lampião tirou seu chapéu de couro e foi ao orgasmo. Fábio Dias queria explicar o plano de governo. E a música continuou:
- Sonha com as belas promessas / De gente importante que tem ao redor /Quando entrar o fulano / Sair o ciclano será bem melhor / Mas entra ano e sai ano / E o tal de fulano ainda é pior / Esse é meu cotidiano / Mais eu não me dano, pois Deus é maior.
E o refrão era cantado por todos:
- O mundo não acaba aqui / O mundo ainda está de pé!
Miltão estava amargurado num canto. Tinha perdido a boquinha na prefeitura.
Seu cargo de aspone havia dançado. Prefeito cassado, a vice passou o facão. Gritaram para o Miltão:
- Vai trabalhar, vagabundo!
Nem preciso dizer, caro leitor, que o mundo virou no Bate-Forte. Cadeiras voadoras, pescoções foram distribuídos a granel. No desespero, Faca Amolada gritou:
- Rodada por conta da casa!
E todos voltaram para seus copos. Afogando seus desejos.
Um comentário:
muitio boa crônica e oportuna!
Faz parte do seu livro não é?
mas..
" enquanto Deus me der a vida levarei comigo esperança e fé.." Rsrsrs
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