AGENDA CULTURAL

6.9.08

Safanões verde-amarelos


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva bem gelada, por favor!

O primeiro gole sempre era jogado no chão, em oferta ao santo, o Onofre. A santidade observava a pobre humanidade embriagada.

O boteco estava enfeitado de verde amarelo em comemoração à Independência do Brasil.

Dr. Duas Caras entrou, sentou-se, afrouxou o nó da gravata, passou as mãos nas laterais da cabeça, ajeitando o cabelo carregado de gel. Fez um piparote. Faca Amolada trouxe suas primeiras cervejas, uma clara e outra escura, que ele tomava à carioca. Depois fez uma observação:

- Que nacionalismo mais brega!

- Esse negócio de Semana da Pátria é coisa da ditadura! – observou Subversivo.

Marmita & Passa Fome entoaram a música de Dom e Ravel:

- Eu te amo meu Brasil, eu te amo / Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil...

Depois de três rodadas, o Dr. Duas Caras, com as veias do pescoço estufadas, trepou na cadeira e fez um discurso:

- Chega de patriotismo de chuteiras, travestido de Copa de Mundo e Olimpíadas! Precisamos amar o Brasil porque nos sentimos incluso nele. Se a pessoa não for aceita onde mora ou no país onde nasceu, como vai gostar de sua pátria!

Os barrigudinhos juntaram-se em volta. Foi fortemente ovacionado. Dr. Duas Caras conseguiu juntar mais gente do que comício promovido por David Lampião.

Miltão não concordou:

- Que saudades tenho naquele tempo em que os estudantes desfilavam pela cidade ao som de uma fanfarra!

Dr. Duas Caras, de cima de sua cadeira improvisada de palanque redargüiu:

- Você deve ser um filhote da ditadura militar! Devemos, isso sim, fazer caminhadas, passeios com nossos jovens. Amar o Brasil porque valoriza a natureza. Militarizar uma festa civil não é o caminho!

Miltão derrubou Dr. Duas Caras de seu palanque. Saiu no braço com Subversivo. Gordo lhe deu um safanão que Miltão foi parar dentro do banheiro. A partir daí, cadeiras voaram!

Faca Amolada, desesperado, gritava:

- Parem! Rodada por conta da casa!

Depois de vários gritos, todos voltaram à normalidade. Magrão vigiava a marcação do Caneta Louca nas comandas. Eta cara ladrão!

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