AGENDA CULTURAL

22.11.08

Barrigudinho & Tanquinho


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Cada um fazia uma persignação especial: jogava o primeiro gole para o santo, o Onofre. Dona Assunta ficava doida com esse costume da freguesia, pois andava de rodo e pano na mão para não deixar o chão do bar em lama. Faca Amolada e Caneta Louca corriam, esbaforidos, pelo bar, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva bem gelada!

- Uma porção de fritas!

Seu Sugiro gritava da calçada:

- Sugiro espetinhos de filé miau! Todos gostam! Bom, né!

No entra-e-sai do bar, veio Bicho Grilo abraçado ao poeta José Geraldo Martinez que arrastava sua pança. Conversa vai, conversa vem. Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo, Dr. Duas Caras apontou para o palco, onde cantavam Marmita & Passa Fome, dizendo:

- Poeta, queremos ouvir algo de sua lavra naquele microfone.

Como bom versejador, regateou daqui, disse despreparado de lá. Quis jogar a tarefa para o Mirto Fricote. Até que pediu permissão para ler algo em prosa em homenagem aos barrigudinhos. E foi.

- Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota em cima do balcão.

Todos aplaudiram. Ganhou a simpatia da platéia. Gordo suspendeu a camisa e mostrou a sua pança com hérnia de umbigo gigante.

E continuou o poeta:

- Barrigudinho é facilmente encontrado nos botecos, nas barracas de pastéis das feiras, e os mais caseiros, em seus sofás no domingo, após uma suculenta macarronada com frango!

A galera foi à loucura. E gritava:

- Dá-lhe, poeta! Dá-lhe poeta!

E o poeta gordinho continuou:

- Os barrigudinhos são alegres, bonachões, escalados para o gol em qualquer pelada de futebol! O “tanquinho” insiste em mostrar os músculos, tomando de canudinho água num coco gelado! A cara é de poucos amigos e declarado indesejável nos botecos.

Subversivo, magriça, chegou perto do poeta e deu uma topada nele. Coitado! Caiu. Quando ia esmurrá-lo, Miltão o segurou pelo cangote, levantou-o do chão e não teve dó:

- Tanquinho, doente, bebedor de água tônica com limão!

E jogou-o no meio da rua.

Faca Amolada gritou:

- Guaraná Paulistinha por conta da casa!

Nossa! Caneta Louca e Dona Assunta intervieram para que o botequeiro não fosse linchado. Amelinha gritou pela primeira vez:

- Rodada por conta da casa!

E a festa voltou a reinar no Bate Forte.

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