
Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Cada um fazia uma persignação especial: jogava o primeiro gole para o santo, o Onofre. Dona Assunta ficava doida com esse costume da freguesia, pois andava de rodo e pano na mão para não deixar o chão do bar em lama. Faca Amolada e Caneta Louca corriam, esbaforidos, pelo bar, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:
- Uma cerva bem gelada!
- Uma porção de fritas!
Seu Sugiro gritava da calçada:
- Sugiro espetinhos de filé miau! Todos gostam! Bom, né!
No entra-e-sai do bar, veio Bicho Grilo abraçado ao poeta José Geraldo Martinez que arrastava sua pança. Conversa vai, conversa vem. Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo, Dr. Duas Caras apontou para o palco, onde cantavam Marmita & Passa Fome, dizendo:
- Poeta, queremos ouvir algo de sua lavra naquele microfone.
Como bom versejador, regateou daqui, disse despreparado de lá. Quis jogar a tarefa para o Mirto Fricote. Até que pediu permissão para ler algo em prosa em homenagem aos barrigudinhos. E foi.
- Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota em cima do balcão.
Todos aplaudiram. Ganhou a simpatia da platéia. Gordo suspendeu a camisa e mostrou a sua pança com hérnia de umbigo gigante.
E continuou o poeta:
- Barrigudinho é facilmente encontrado nos botecos, nas barracas de pastéis das feiras, e os mais caseiros, em seus sofás no domingo, após uma suculenta macarronada com frango!
A galera foi à loucura. E gritava:
- Dá-lhe, poeta! Dá-lhe poeta!
E o poeta gordinho continuou:
- Os barrigudinhos são alegres, bonachões, escalados para o gol em qualquer pelada de futebol! O “tanquinho” insiste em mostrar os músculos, tomando de canudinho água num coco gelado! A cara é de poucos amigos e declarado indesejável nos botecos.
Subversivo, magriça, chegou perto do poeta e deu uma topada nele. Coitado! Caiu. Quando ia esmurrá-lo, Miltão o segurou pelo cangote, levantou-o do chão e não teve dó:
- Tanquinho, doente, bebedor de água tônica com limão!
E jogou-o no meio da rua.
Faca Amolada gritou:
- Guaraná Paulistinha por conta da casa!
Nossa! Caneta Louca e Dona Assunta intervieram para que o botequeiro não fosse linchado. Amelinha gritou pela primeira vez:
- Rodada por conta da casa!
E a festa voltou a reinar no Bate Forte.
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