AGENDA CULTURAL

18.4.09

Tiradentes – nosso Jesus Cristo


Hélio Consolaro

Tiradentes foi o bode expiatório da Conjuração Mineira. Só condenaram o coitado à morte, porque era o mais pobre dos inconfidentes e não tinha título de doutor. Pena de morte só sobra para quem não possui um gato para segurar pelo rabo.
No dia 21 de abril de 1792, 11h45, sábado, no Rio de Janeiro, Joaquim José da Silva Xavier ficou dependurado na ponta da corda. Para que o condenado morresse mais depressa, o carrasco ordenou que um escravo pulasse sobre o corpo do condenado, fazendo-lhe aumentar o peso.
O cadáver foi levado para a Casa do Trem, e lá esquartejado a golpes de machado, como se fosse um boi morto, e envolvido em salmoura. Os pedaços de seu corpo foram expostos nos lugares em que o alferes costumava pregar suas idéias no Rio de Janeiro.
A perna direita de Tiradentes foi fixada num poste em Sebolas (com s mesmo), hoje Inconfidência, distrito do município fluminense de Paraíba do Sul. Ana Mariana Barbosa, uma viúva, amante de Tiradentes, mandou recolher aquele “símbolo macabro da tirania”, pois ninguém passava por lá, e deu um sepultamento digno àquela parte no corpo atrás da casa principal de sua fazenda.
Depois de 30 anos, 1822, D.Pedro I proclamou a Independência do Brasil, um conchavo da família real portuguesa que estava enfraquecida, sem condições bélicas para reagir, já que Dom João 6.º fugira de Portugal com as calças nas mãos para o Brasil, porque a sede do reino havia sido invadida pelas forças de Napoleão Bonaparte.
(Atualmente, alguns historiadores andam pintando o monarca português de estadista, tirando-lhe do limbo. Este croniqueiro é mais pela galhofa do filme Carlota Joaquina.)
Vendo que qualquer movimento rebelde na colônia chamada Brasil seria bem-sucedido, D. João 6.º chamou o filho de lado lhe cochichou aos ouvidos e disse:
- Antes que algum aventureiro ganhe isso de presente, vá você, filho, e proclame a independência, e tudo fica em casa.
E tudo aconteceu conforme o combinado. Por causa disso, Tiradentes não foi ressuscitado como herói da independência, pois quem determinara o seu enforcamento e esquartejamento fora D. Maria I, avó de D. Pedro I, bisavó de D. Pedro II que governara até 1889.
Só a república tirou Tiradentes do esquecimento histórico, mas o povo nem sabia mais que ele havia existido. Assim, o novo herói dos republicanos teria aceitação popular. Daí o apelo emocional na pintura de sua imagem, meio parecida com a de Jesus Cristo, que também ninguém sabe se era branco ou negro.
Desenharam-no à imagem e semelhança do Nazareno. Como não havia máquina fotográfica na época do enforcamento, o dito ficou sendo o imaginado. A diferença é que um foi crucificado, o outro, enforcado.
Por isso, caro leitor, na terça-feira, você estará aí belo e folgado, usufruindo uma bela folga. Não sei se já percebeu, atrás de um feriado, sempre há uma tragédia, um banho de sangue.

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