AGENDA CULTURAL

29.10.09

Depressão é falta de serviço


Hélio Consolaro*

Os adágios populares, às vezes, vêm carregados de preconceito, de um pensamento político nada correto, mas não deixam de trazer as verdades sentidas pela população no seu dia a dia. Não costumo desprezá-los.
Diz um adágio que o ócio, a falta do que fazer deixa as pessoas vulneráveis, fáceis presas de caraminholas. O escritor português, realista, Eça de Queirós, na tentativa de ironizar o Romantismo, construiu a personagem Luisinha no livro “O Primo Basílio”. Como uma burguesa ociosa, lia livros cheios de aventuras amorosas e ficou ávida delas, campo propício para um conquistador, como o seu primo Basílio, o anti-herói românico.
O conhecimento empírico, às vezes, encontra respaldo nas ciências. A fitoterapia, por exemplo, vive provando que as plantas curam, que aquela receita da vovó de tomar chazinho disso ou daquilo tem suas razões científicas.
Lendo o caderno “Mais”, da Folha de São Paulo, de 11/10/2009, cujo tema é “Entre a droga e o divã”, li a entrevista da neurologista norte-americana Kelly Lambert, em que defende a tese de que os trabalhos mais simples, como limpar o chão, combatem a depressão. Ao lê-la, concluí que minha avó tinha razão. A execução e a conclusão deles causam certo bem-estar. Não é à toa que os pobres são felizes, não têm depressão.
A doutora faz pesquisa com ratos, pesquisa a reação do cérebro com a recompensa. E assim, ela passou para o ser humano, que não foi muito diferente. Por que entre os antigos a depressão não era tão generalizada como hoje? Houve, na verdade, uma mudança no estilo de vida, hoje somos mais passivos.
Meus amigos me perguntam:
- Por que você trabalha tanto? Vive na correria. Quando a gente pensa que você vai parar, abraça ocupação mais desafiadora...
Não fico diante da tevê por tanto tempo. O computador me atrai, me ocupa, mas não “mato o tempo” nele. Quando o ligo, estou procurando resolver alguma coisa que vai me ajudar na realidade.
Se um dia, eu me perguntar:
- Que tenho a fazer?.
E a resposta for:
- Nada!
Com certeza, chegarei ao suicídio com facilidade. Confesso que desejo morrer na lida. Se a insônia me pegar no meio da noite, me levanto e vou trabalhar. Depois, volto e durmo. Ficar com raiva, brigar comigo mesmo, rolar na cama não é uma atitude inteligente.
Não sou melhor nem pior. Sou assim. Como não nascemos com manual de funcionamento, vamos nos construindo e nos descobrindo paulatinamente. Conhecer a si mesmo é um bom adágio a ser seguido.
Sou assim. Quem me quiser diferente, procure outro.

3 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

" Não é a toa que os pobres são felizes " ; pudera, ganham quando muito um salário mínimo, alguns têm bicicleta; uns moram com a sogra ou a sogra moram com eles, a maioria ou é palmeirense ou corinthiana; não engordam pq não têm o que comer. Com um vidão assim, só mesmo sendo felizes

Patrícia Bracale disse...

Eu creio que para enfrentar a depressão ou a preguiça tem que caçar o que fazer, e rápido.
Pra estagnar basta água parada,
Vamos correr por ai...

Iara De Dupont disse...

Rs...gostei do post, apesar de radical..enfim, se puder me visite...http://sindromemm.blogspot.com