AGENDA CULTURAL

8.4.10

Uma história fantástica



Hélio Consolaro*


Um mês sim, outro também, há alguém lançando um livro neste nosso fundão do Estado de São Paulo. Gente que quase sempre paga uma pequena edição de 500 exemplares (há editoras oferecendo até tiragens menores) do seu bolso, usando a poupança para realizar um sonho.


Quase sempre, na noite de autógrafos, há alguns outros escritores da cidade, amigos e parentes. E o escritor estreante, ao redigir a dedicatória, vai ouvir aquela frase feita:


- Que depois desse, venham outros!


Se o autor estiver no segundo ou o terceiro livro, o normal é ouvir o lugar-comum:


- Você está sempre se superando!


Assim, no dia 4 de março, na livraria Nobel (Araçatuba Shopping) entrei na fila para cumprimentar o médico araçatubense Anderson Dutra e pegar o seu autógrafo num exemplar de “Lara – As incríveis aventuras de uma menina igual a muitas outras”, editora Novo Século, 173 p., R$ 24,90.


Edgar Morin disse que aprendemos mais nos livros de pequenas edições, de autores desconhecidos, que em best-sellers, por isso procuro ler sempre os livros lançados por meus amigos. Assim o fiz com “Lara”.


O livro do Dr. Anderson Dutra é do gênero de “O Pequeno Príncipe” (1943), de Antoine de Saint-Exupéry; de “Alice no País das Maravilhas” (1865), de Lewis Carroll , que é citado em “Lara”; de O Menino do Dedo Verde(1957), de Maurice Druon. Eles ficam entre a fábula e a parábola.


Resumidamente, Lara mora num pequeno planeta, e resolve abandonar o lar, como qualquer adolescente dos anos 60. Ela não faz bem o perfil do jovem de hoje, que só abandona o ninho se for expulso pelos pais.


O Poderoso Tigre e a Grande Árvore metaforicamente representam o pai e a mãe de Lara. Nas andanças pelo mundo, inconformada com a pequenez daquele planeta (lar), encontra animais com quem dialoga e vive experiências fantásticas.


Confesso que não gosto de histórias em que no final a personagem acorda e tudo não passou de um sonho, seria primarismo, mas em Lara, Anderson Dutra usou desse artifício para mostrar ao leitor que as aventuras vividas por Lara podem estar no imaginário de toda adolescente. Assim, a protagonista é acordada pelo pai, com aquela frase terrível: “Acorde, filha. Está na hora da escola.”


“Lara” é um livro cuja leitura pode ser recomendada por professores e ser discutido amplamente com os alunos, a partir do 7.º ano; mas não faz mal a nenhum adulto, a exemplo de seus congêneres best-sellers. Lara é nossa Alice, nossa princesinha.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba.


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