AGENDA CULTURAL

12.4.11

Leitora escreve sobre as crônicas de Hélio Consolaro


Professor Hélio, desculpe se não o chamo de “Consa”, mas não me acho tão sua amiga que possa lhe dispensar esse tratamento, gostaria de sê-lo e poder privar de sua amizade, mas posso garantir que sou uma das suas 17 leitoras.

No dia de hoje, fui até o Pronto Socorro Municipal do Bairro Santana para cumprir com uma caridade e por força de ter que aguardar o atendimento, passei a mão em um livro que ali estava [Ponto de Leitura, da Secretaria Municipal de Cultura] – “Filósofo de Semáforo”. Comecei a lê-lo e não consegui parar, só por força da necessidade, retomando-o, logo em seguida identifiquei-me com sua infância, com seu carinho pela nossa Araçatuba, com a “Japa”, com “Meninão” e “Menininha”, com nossos amigos comuns.

Percebi que nossa infância não foi diferente apesar de que eu fui urbana/rural e você rural/urbano, mas me vi de pés descalços pelo asfalto quente da Rua Cussy de Almeida, enquanto você percorria a Estrada do Cafezópolis, também fui conhecer e gostar da Cássia Eller uma semana antes de ela partir, mas estou fã dela até hoje.

Dona Zilá, então, nunca vi um sonho assim tão igual, até o Del Rey eu já tive, domingo cortando grama, vai ser igual assim, lá na Rua Guatemala sorvete de coco no Bar do Colombo, onde hoje é a CIRETRAN, anos 60, eu fazia o primário no José Cândido, até os abraços mal intencionados eram inocentes, os freios da moral eram muito arraigados em nós e a cinta do meu pai era esperta e tinha olhos, via até os pensamentos da gente e castigava os que ousassem estar em desacordo.

Lembrei-me de um tempo em que o meu desejo maior era crescer, trabalhar, ganhar dinheiro para comprar uma mortadela que eu via pendurada na venda do Seu Cassimiro e ao invés de pão doce, minha mãe faz “mantecal” por ocasião do natal , quando reunimos toda a família não é uma bolachinha qualquer, é aquela que veio da Espanha, passou por todas as gerações dessa família e vem trazendo em si, alemães, italianos, espanhóis, negros e índios, tudo junto e misturado, tudo amassado na farinha e no açúcar e que nos dá um prazer enorme quando mastigamos o amargo e o doce da vida, ano após ano, vemos nela um elo de amor, uma família.

Eu queria que você soubesse que quando fico de longe, bem do lado de fora da vida para observar pessoas, vejo que somos pessoas muito iguais, infância, adolescência, casamento, família, que as dificuldades são muito semelhantes nas suas diferenças, e que isto é o elo de ligação entre as pessoas que separa e que une, resultando no fim das contas nos mesmos sentimentos e emoções e por fim me deu vontade de ler novamente José Mauro de Vasconcelos para resgatar aquela criança que ainda pulsa em mim apesar dos meus 60 anos. 

Deu também uma vontade enorme de te abraçar, com todo respeito e licença da “Japa”, por ver que Araçatuba também tem um cronista/escritor, acima de qualquer expectativa, para dele ter orgulho.

Maria Elena, 60 anos, policial civil, araçatubense de coração.
Araçatuba, segunda-feira, 11 de abril de 2011.

COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO
Cartas como essa, carregadas de emoção e afeto, é que me fazem escrever sempre, porque escrever constrói a minha felicidade e a dos outros. 
Como recebi a sua carta digitada em folha de papel, talvez, em impressora matricial, talvez não tenha acesso à internet, então, dificilmente, lerá a sua carta neste blog. Apesar disso, divido minha alegria com meus leitores internautas.
Outra alegria é saber que os PONTOS DE LEITURA, da Secretaria Municipal de Cultura, da qual sou secretário, está cumprindo o seu papel, oferecendo  opção de leitura e aproximando leitor e escritor.  
Doei alguns de meus livros aos pontos e um deles caiu nas mãos da Maria Elena.

COMERCIAL
Se alguém quiser adquirir o livro, custa R$ 25,00, com despesa de postagem incluída. E-mail para pedidos: conselio@gmail.com 

2 comentários:

Cecilia Ferreira disse...

Muito bonito e texto e o sentimento de Maria Elena. Se "araçatubense de coração" não é o sobrenome dela este lhe cabe muito bem.
Parabéns Hélio, por despertar a alma humana.

claudia colli disse...

Gostei muito da carta da Maria Helena.Suas lembranças contam um pouco da história de Araçatuba e seria muito bom socializá-las com os jovens... quem sabe um dia Maria Helena escreverá mais das suas lembranças para contar aos jovens...vou torcer pra que isso aconteça.
A propósito...a venda do seu Cassimiro, que ela escreve na carta, era do meu sogro...tinha mortadela pendurada na porta da venda e hoje é o bar do Colli...