AGENDA CULTURAL

28.7.11

Não se encontra no Google


Grande público adentra o auditório do Senac
Não se encontra no Google
Hélio Consolaro*


Fui à abertura  do 10.º Cosmos – Realidade e Mistério. Trata-se de um ciclo de palestra  realizada  pelo  Inape – Instituto de Astronomia  e Pesquisas Espaciais – com apoio  do  Sesc. Ocorre anualmente e o grande líder é Gener Silva, andarilho  dos caminhos de Santiago de Compostela.
Professor Amadeu Zanon e Hélio Consolaro
A cada ano o  evento apresenta novidades. Em 2011, o astro foi um homem que quase chamuscou os  cabelos, passando  pelas labaredas do espaço sideral  e tem “astro” no nome de sua profissão:  o  astronauta brasileiro Marcos Pontes.
Hélio Consolaro e Carlos Gilberto Nova, ambos secretários municipais:
Cultura e Turismo, respectivamente, observam Gener Silva fazendo o seu discurso


Gostei  da palestra de nosso astronauta filho único. Foi mais um papo de autoajuda que astronomia. O auditório  do Senac estava lotado, duro de  gente,  com 250 pessoas.
Prefeito Cido Sério discursa
Ainda bem. Quem  sabe se, com isso, as pessoas se descobrem e param com a busca  de ETs e façam uma viagem dangerosíssima, como escreveu o poeta Drummond, mergulhando dentro  de si mesmo.

Que mal há em se ocupar com o mistério, o  desconhecido? Nenhum.  Perguntar-se:  “Quem sou eu?” e ir atrás de seres extraterrestres não tem muita diferença. A palestra de Marcos Pontes foi mais valiosa  que um sermão dominical proferido nalguma igreja. Ele deu lição de perseverança, resiliência,  fé e patriotismo.
Marcos Pontes dá o seu recado
O astronauta brasileira ganha dinheiro com  suas palestras, dirá alguns, tentando desvalorizar  o seu  trabalho.  Há  gente que não tolera o sucesso;  do  outro, principalmente.

Ganhar dinheiro não é pecado, e há muita gente faturando por aí  fazendo mal à humanidade. Pontes, pelo menos, ensina algo  à moçada e conta suas aventuras no espaço de uma forma humorada.

Marcos Pontes, o menino de Bauru, não se conformou com sua pobreza material, acreditou em si,  ousou. Além de pertencer à reserva da Força Aérea Brasileira é astronauta,  teve coragem e competência para ficar 10 dias no espaço em 2006.

No final, quando todos  se levantaram para aplaudi-lo, Marcos Pontes fez a platéia cantar  o Hino Nacional, porque a bandeira brasileira tem muito significado.      

Este cronista não  estava lá para buscar informações técnicas e astronômicas, nem sou caçador  de ETs, sou apenas caçador de mim, não me  canso  de me perseguir. E essa busca não se encontra  no Google.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Cia. de Blogueiros. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba-SP




Caçadores de ETs
(publicada em julho de 2004 na Folha da Região, coluna "Entrelinhas")

Era astrólogo ou simples poeta?/ Era o vidente do ar/ Tinha uma loja azul cobalto,/ claro céu dentro do bazar/ Teto e paredes só de estrelas:/ e a lua no melhor lugarCecília Meireles. 

Araçatuba não é Varginha-MG, sede dos ufólogos brasileiros, mas está promovendo um seminário de estudos denominado “Cosmos III – Realidades e Mistérios”, de 26 a 30 de julho, na sede do Senac.

A promoção é do Inape – Instituto de Astronomia e Pesquisas Espaciais. Nome pomposo, até parece a NASA araçatubense.

O Fórum Cultural de Araçatuba e a Academia Araçatubense de Letras reapresentam a mostra de artes plásticas e literatura do Barracão Cultural no Senac, durante a realização de Cosmos III. Retribuíram, assim, a presença do Inape na Expô, com seus telescópios.

Algum leitor poderá perguntar: que têm a ver astronomia, exobiologia com academia de letras? Muito, pois os poetas enluarados não vivem sem a Lua e o céu estrelado.

O mentor do Inape foi Gener Silva. A imprensa da época não entendeu bem a proposta, assim a turminha ficou caracterizada como “caçadores de ETs”. 
Mas antes, houve em Araçatuba um astrônomo autodidata, o Cândido Freitas dos Santos, que é patrono do Inape. O Candinho tinha no Jardim Sumaré seu observatório particular, que era visitado pelos amigos.

O Chico Trajano, motorista desta Folha, há alguns anos vivia vendo alguns ETs por aí. Ultimamente, ele sossegou o facho. Não sei se ele continua vendo-os e não conta mais pra gente ou os visitantes descobriram que ele trabalha em jornal e sumiram. Os ETs são mudos, “nada têm a declarar” à imprensa, só os humanos dizem alguma coisa sobre eles. 

Os ufólogos criaram o Inape e foram até a Câmara Municipal pedir verbas. Na discussão do projeto, o vereador Arlindo Araújo lascou:

- Que os caçadores de ETs  custeiem suas próprias aventuras!

O Wilson Simões Baldo, atual presidente do Inape, guarda essa frase (ou coisa parecida) com certa mágoa. E diz:

- Nós queremos desenvolver o espírito científico!

Deve ter surgido alguém que dera novo rumo ao grupo para que não fosse motivo de pilhéria como aquela, então, ganharam linguagem nova, como: 

“Realidades e Mistérios”. “Realidade” é a parte científica, como a astronomia. Na palavra “Mistérios”, um biombo vocabular, escondem-se os “caçadores de ETs” com a exobiologia, que significa ciência que estuda a possibilidade de vida extraterrestre.    

Ninguém caça ETs e nem fica com o olhar navegando pelo espaço sideral à toa, de uma forma ou de outra,  todos somos caçadores de nós mesmos, à procura de respostas a velhas perguntas: de onde vim, quem sou e aonde irei.



Um comentário:

HAMILTON BRITO... disse...

No cosmos, não existe mistério. Existe desconhecido. O desconhecido hoje é muito maior que o de ontem. Cada vez o homem saberá de mais coisas mas mistério, aqueles sereszinhos esquisitos , cheios de anteninhas, mais feios que o heitor Gomes e o Picasso...porque não pintam os ETS como seres bem feitos fisicamente, assim à minha semelhânça.Ufúlogo, bah!