AGENDA CULTURAL

30.9.11

Vida sem sexo

Hélio Consolaro*




O celibatário tem uma vida sem sexo, ou sem nexo. O padre, por exemplo, é proibido pela igreja de se casar. O chamado mais forte da vocação é a abstinência sexual, por causa dela, muitos desistem de ser freira ou sacerdote.

No meu caso, depois de minha primeira masturbação (não é primeira comunhão, porque se trata de sexo solitário), quando adolescente, nunca mais fiquei sem, mesmo que os padres me pressionassem no confessionário.  Troço bom, siô!

Se a pessoa se sente bem sem sexo, que mal tem? Às vezes, o padre mantém as aparências. Alguns praticam a pedofilia, outros, saem com as paroquianas mesmo.

Precisamos lembrar que praticar a homossexualidade é também quebrar o celibato. Deviam existir padres celibatários e não celibatários. Talvez isso ocorra num futuro longínquo, pois a igreja católica é muito conservadora.

Outro dia, conversando com um rapaz maduro, em torno de 30 anos, ele me declarou que ainda é virgem e que faz sacrifício para se manter assim. Trata-se de um comportamento imposto, que maltrata a natureza daquele macho contido.

Parei a conversa por aí em respeito à opção dele. Nem incentivei nem combati a sua virgindade. Calei-me. Para mim, foi uma declaração chocante.

Não se assuste, caro leitor. Há muito homem celibatário (ou virgem) pousando de “comedor” para não ser gozado pelos amigos. O mundo não está tão perdido como pensam alguns moralistas. Forçar a ser devasso também não é bom, cada um deve ter a alegria de ser o que é.

No livro “Memórias de minhas putas tristes”, de Gabriel García Márquez, publicado no Brasil em 2005, narra a história de um velho cronista e crítico musical que, em seu aniversário de 90 anos, pretende presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. A sua amiga cafetina, de quem era freguês, providenciou o seu presente, uma menina de 14 anos.

Porém, ao vê-la dormindo, não tem coragem de acordá-la e se apaixona pela garota adormecida. Havia se tornado príncipe. Justamente ele que não admitia ter relacionamento com uma mulher sem lhe pagar. Era solteiro aos 90 anos.

Esse personagem-narrador do livro, um puteiro juramentado, acaba seu tesão, assim seu amor se torna platônico, pois apenas sem sexo descobre o amor, o amor verdadeiro, como pregam os cristãos e os platônicos. Para este croniqueiro, o sexo não emporcalha o amor.

Às vezes, a separação ou a viuvez faz com que uma pessoa, homem ou mulher, fique sem sexo, perde-se o nexo. Outras vezes, a decepção com o sexo oposto nos leva a isso: “Mulher só dá confusão” ou “Homens são todos iguais”.
Toda essa confusão com o sexo porque Platão, depois o cristianismo, dividiu o mundo em duas partes, ideal (alma) e real (corpo). E as genitálias ficaram no corpo. Outros, como Dan Brown, no livro “O Código da Vinci”, dizem que pelo orgasmo se chega a Deus. Como era concorrência à igreja, proibiu-se o sexo aos mortais. Fazer sexo passou a ser pecado, só não foi proibido porque o Criador pediu que nos multiplicássemos.

Prefiro ser um pecador feliz a um santo recalcado. Quem disse que os santos são recalcados? Não vamos começar de novo...
  
Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP. 

2 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

Começa confessando a primeira masturbação...melhor parar por aí, caro. Vai tomando gosto, criando coragem e depois, sabe-se lá Deus o que vais confessar. Pior é que vai influenciar o Heitor Gomes. Olha, corto a amizade se ele confessar certas coisas.

Anônimo disse...

Ainda bem que existe o livre arbitrio, cada qual com sua escolha, uns gostam outros nãos, existem no mundo até os assexuados, que não transam nem com homens nem com mulheres, já viu falar nisto? É Zé o mundo mudou
muito, não só na tecnologia. e vamos que vamos, vendo tudo e as vezes nada!
marianice