Cabelos e unhas crescem mesmo depois da pessoa morta?
Mais
do que um recurso de beleza e uma proteção contra o sol, o cabelo é
uma fonte preciosa para entender a história e o simbolismo universal da
humanidade. Jornalista e pesquisadora na área de moda, beleza e
comportamento, Leusa Araújo dedicou mais de seis anos de estudo a esse
tema. Como resultado dessa incursão, ela acompanha a jornada dos fios
ao redor do mundo por meio dos movimentos sociais e da moda em O livro do cabelo.
A seguir, a autora revela detalhes da publicação, além de muitas
curiosidades sobre as madeixas que, um dia, já foram arma de
encantamento de sereias, oferenda aos deuses e poções de feiticeiros.
Como surgiu o interesse de traçar um panorama histórico do cabelo?
Esse é o meu segundo livro de não ficção, o primeiro foi Tatuagem, piercing e outras mensagens do corpo
e, desde o seu lançamento, eu já tinha o desejo de investigar a
história de outras partes do corpo. Sempre me chamou atenção que o
cabelo deveria ter sentidos muito maiores além do modismo. Ele é a
parte do físico que mais sofreu modificações na história humana. Como
sempre pesquisei a área de moda e beleza, encontrava muito mais a
história do penteado, mas não de onde surgiram esses paradigmas. Me
senti desafiada a fazer mais essa investigação.
Desde quando adquirimos o costume de lavar, pentear e arrumar o cabelo como fazemos hoje? O
registro de pentear vem de eras passadas. Existem várias teorias que
dizem que o piolho foi uma das formas de fazer o homem ter o controle
do cabelo, e o pente, durante séculos, era um objeto utilizado para
desengordurá-lo. O xampu, sim, é uma realidade do século 20. Então,
essa possibilidade de cuidado que temos hoje é um fenômeno que se
popularizou no Brasil na década de 1960, com a chegada da água encanada
nas casas, o que facilitou a disseminação do condicionador e das
tinturas alguns anos depois.
Assim como as unhas, o cabelo continua crescendo após a morte. Como isso acontece? Na
verdade, o cabelo sobrevive ao homem. A queratina é uma proteína muito
estável e resistente. Os geneticistas afirmam que existe um resto de
energia após a morte do ser humano, o que faz com que ainda cresça um
pouco a unha e o cabelo. Isso causa um espanto e é um mistério muito
grande.
E qual a origem dos termos “cabelo bom” e “cabelo ruim”? Foi
na época da escravidão. O negro que tinha cabelo muito ruim [crespo]
ia para a lavoura e lá sobrevivia em média de cinco a sete anos às más
condições de vida e ao trabalho sob o sol. Em comparação, quem tinha um
cabelo “menos ruim” nessa categorização, tinha mais chances de
sobreviver. Essa expressão ainda é usada nos dias de hoje, dividindo
pessoas e, muitas vezes, empresas obrigam mulheres a escovar seus
cabelos e homens a mantê-los aparados.
E a influência do cabelo na cultura, como ele revolucionou esse mundo?
O
cabelo é uma modificação imediata que o teatro, o cinema e a música
souberam usar muito bem ao longo dos anos. No caso da identidade da
personagem, a primeira coisa que é possível mudar é o cabelo e depois
as roupas. Durante a era de ouro de Hollywood, os cabelos das
personalidades tiveram uma influência enorme. E no campo da música, há
sempre uma descrição da maneira de se vestir e de usar o cabelo, como
nas letras de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Bob Marley e outros.
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