AGENDA CULTURAL

16.7.12

A história do ser humano por seu cabelo

Cabelos e unhas crescem mesmo depois da pessoa morta? 


Mais do que um recurso de beleza e uma proteção contra o sol, o cabelo é uma fonte preciosa para entender a história e o simbolismo universal da humanidade. Jornalista e pesquisadora na área de moda, beleza e comportamento, Leusa Araújo dedicou mais de seis anos de estudo a esse tema. Como resultado dessa incursão, ela acompanha a jornada dos fios ao redor do mundo por meio dos movimentos sociais e da moda em O livro do cabelo. A seguir, a autora revela detalhes da publicação, além de muitas curiosidades sobre as madeixas que, um dia, já foram arma de encantamento de sereias, oferenda aos deuses e poções de feiticeiros.   

Como surgiu o interesse de traçar um panorama histórico do cabelo?  
Esse é o meu segundo livro de não ficção, o primeiro foi Tatuagem, piercing e outras mensagens do corpo e, desde o seu lançamento, eu já tinha o desejo de investigar a história de outras partes do corpo. Sempre me chamou atenção que o cabelo deveria ter sentidos muito maiores além do modismo. Ele é a parte do físico que mais sofreu modificações na história humana. Como sempre pesquisei a área de moda e beleza, encontrava muito mais a história do penteado, mas não de onde surgiram esses paradigmas. Me senti desafiada a fazer mais essa investigação.

Desde quando adquirimos o costume de lavar, pentear e arrumar o cabelo como fazemos hoje?  O registro de pentear vem de eras passadas. Existem várias teorias que dizem que o piolho foi uma das formas de fazer o homem ter o controle do cabelo, e o pente, durante séculos, era um objeto utilizado para desengordurá-lo. O xampu, sim, é uma realidade do século 20. Então, essa possibilidade de cuidado que temos hoje é um fenômeno que se popularizou no Brasil na década de 1960, com a chegada da água encanada nas casas, o que facilitou a disseminação do condicionador e das tinturas alguns anos depois.



Assim como as unhas, o cabelo continua crescendo após a morte. Como isso acontece?  Na verdade, o cabelo sobrevive ao homem. A queratina é uma proteína muito estável e resistente. Os geneticistas afirmam que existe um resto de energia após a morte do ser humano, o que faz com que ainda cresça um pouco a unha e o cabelo. Isso causa um espanto e é um mistério muito grande.

E qual a origem dos termos “cabelo bom” e “cabelo ruim”?  Foi na época da escravidão. O negro que tinha cabelo muito ruim [crespo] ia para a lavoura e lá sobrevivia em média de cinco a sete anos às más condições de vida e ao trabalho sob o sol. Em comparação, quem tinha um cabelo “menos ruim” nessa categorização, tinha mais chances de sobreviver. Essa expressão ainda é usada nos dias de hoje, dividindo pessoas e, muitas vezes, empresas obrigam mulheres a escovar seus cabelos e homens a mantê-los aparados.

E a influência do cabelo na cultura, como ele revolucionou esse mundo?  
O cabelo é uma modificação imediata que o teatro, o cinema e a música souberam usar muito bem ao longo dos anos. No caso da identidade da personagem, a primeira coisa que é possível mudar é o cabelo e depois as roupas. Durante a era de ouro de Hollywood, os cabelos das personalidades tiveram uma influência enorme. E no campo da música, há sempre uma descrição da maneira de se vestir e de usar o cabelo, como nas letras de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Bob Marley e outros. 

Nenhum comentário: