AGENDA CULTURAL

2.7.12

Professor é demitido por ser roqueiro


Marcelo Moreira - Jornal da Tarde

Régis é um professor de história do ensino médio com mestrado em sociologia política por uma boa faculdade paulistana. Encontrei-o no centro de São Paulo recentemente, por acaso, quando ele estava em um ponto de ônibus no meio da tarde. Apesar de ter pouco mais de 30 anos de idade, é um veterano da cena roqueira de São Paulo e da Galeria do Rock. Conseguiu pagar parte dos estudos com o dinheiro que ganhou como balconista de algumas lojas de CDs.
Expansivo e falante, tinha acabado de sair de uma entrevista de emprego em uma empresa de análise de crédito pessoal. Pela manhã estivera entregando currículo em duas escolas particulares da zona norte da cidade e no dia anterior tinha tentado uma vaga em uma empresa de pesquisa de mercado na avenida Faria Lima, em Pinheiros.
Professor apaixonado e especializado em história da Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial e especialista também em história militar da Europa, estava desempregado havia cinco meses, após ser demitido de uma escola particular da zona sul. Motivo da demissão: “inadequação” ao perfil pedagógico da instituição. “Descobriram isso depois de quatro anos…”, ironizou.
Régis foi vítima de preconceito cultural, se é que isso existe. Após insistir muito com a coordenadora pedagógica da área de humanas da escola, finalmente confirmou as suas suspeitas: alguns pais e colegas professores se queixaram à direção dos “hábitos” e dos “gostos excêntricos e perturbadores”.
Roqueiro desde os 10 anos de idade e apaixonado por heavy metal, baterista ocasional, vocalista frustrado e péssimo violonista, era um dos profissionais mais queridos dos alunos, até pelo jeito expansivo e pela inteligência e cultura vasta.

3 comentários:

Kelly Christi disse...

Hélio, achei a notícia absurda, poucos tem a consciência de que é preciso refletir sobre isso... de que não devemos julgar uma pessoa e sua profissão pelas escolhas pessoais que ela faz.

O Brasil é um falso país moderno, que ainda se apega em coisinhas banais e arcáicas, dizendo-se um Estado Laico e respeitando as escolhas pessoais e religiosas do próximo, porém vemos que é ao contrário, a lei, os discursos perante o outro, existem, mas na mentalidade das pessoas não é bemmm assim que a coisa funciona rsrs.

Anônimo disse...

Num país predominantemente sertanejo e funkeiro, esperar mais o que?

Heitor Gomes disse...

Infelizmente é assim que funciona. E quando um artista tem seu talento suprimido por quem deveria incentiva-lo, simplesmente por que ele não é considerado "Cult" pelos pseudos intelectuais. Não é criminoso? Fazer o que? Amém! Heitor Gomes.