AGENDA CULTURAL

12.8.12

Homem sem agá e outras incertezas - um livro que merece ser lido

Conheci Marlene de Lima em setembro de 2009, quando se deu a solenidade de premiação da 22.ª edição do Concurso de Contos Cidade de Araçatuba.
Convidada por nós por telefone, de pronto se prontificou em vir pessoalmente receber o prêmio. A equipe da Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba-SP, e o prefeito Cido Sério, ficou muito contente com sua visita e a permanência por três dias em nossa cidade.
Araçatuba tem aproximadamente 200 mil habitantes.

Noutro dia, na fase de organização de outro setembro, quando teremos a Jornada de Literatura de Araçatuba de 1.º a 14 de setembro, e a premiação do 25.º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba, eu me lembrava de Marlene de Lima. No dia seguinte, recebo pelo correio um exemplar do livro "Homem sem ágá e outras incertezas". A coincidência foi muito gratificante.

Já li o livro. Seus contos dão ao leitor os três níveis de leitura: nas linhas, nas entrelinhas e por trás das linhas. Quem procura neles apenas uma história, a tem, e bem contada, mas apresenta também profundidade, basta mergulhar em suas águas.

Homem sem agá e outras incertezas
Editora Cais Pharoux - Rio de Janeiro
Vinte contos, 144 páginas - R$ 24,00
 
ORELHA DO LIVRO
 A elegância do estilo, o humor e a sensibilidade dão tal leweza à literatura de Marlene de Lima, que a profundidade temática nos pega distraídos. Seduzidos pelo prazer da leitura, fazemos quase sem perceber  uma visita guiada pelo processo de liberação que marcou o final do segundo milênio.

Não é por acaso que o primeiro destes vinte contos que commõem o livro "Homem sem agá" começa com recortes de revisa em Coruripe, Alagoas, e o vigésimo termina na saída da estação Glória do metrô, no Rio de Janeiro. Eles balizam uma trajetória temporal e geográfica que Marlene conhece bem e registra melhor ainda.

De Coruripe à Glória, "Homem sem agá e outras incertezas" nos fala de mulheres que se livram do jugo do marido e da sociedade (Matrizes), de homo e transexuais que se libertam ou lutam para (Os iguais), das agruras e incertezas da rotina urbana (Cotidiano) e do sedimento que de todas as histórias afinal permancem (Tempo e memória).

"Homem sem agá" é um livro histórico e sociológico que não fala de Sociologia nem de História, mas de fascinantes histórias individuais. Nelas, o que leva uma mulher a sacudir enfim a canalha conjugal pode ser um objeto tão maravavilhosamente prosaico aquanto um retrato de Clark Gable, um pedaço de queijo do sertão ou dois pés de porco.

Ao longo desta viagem por várias décadas e cidads, a ironia condiuz o drama. E a leitura estimula o riso e a inteligência.

João Paulo Vaz     

Comentário de Celso Gomes no seu site:
Algo a dizer

Marlene lançou em dezembro de 2011 o livro “O Homem sem Agá”, pela editora Cais Pharoux, uma coletânea de contos escritos ao longo dos últimos anos.
Sou filho de nordestinos. Meu pai veio para o Rio de Janeiro em um pau-de-arara para ganhar a vida como muitos outros retirantes. Por esse motivo, sempre me considerei meio nordestino, meio carioca. Morei em Natal quando criança, em uma das muitas idas e vindas do meu pai, que se sentia como um exilado no Sul maravilha.
Marlene fez o mesmo movimento que meu pai. De Alagoas para o Rio. Mas, assim como meu pai, Marlene nunca abandonou de vez sua terrinha querida. O pó do Nordeste se entranhou em sua pele, numa amargura de dar dó. Por esse motivo, a música, a literatura, a dança, as comidas, nunca dão conta de tirar essa nódoa, essa dor.
No entanto, não custa nada tentar.
O Homem sem Agá é isso. Uma bela tentativa de aplacar esse sentimento teimoso de exílio. O livro representa o caminho traçado pela autora até o Rio de Janeiro. Marlene, astuciosamente, vem de Alagoas para a Glória. Seu caminho de escritora nordestina que chega para ocupar um lugar há muito tempo vazio.
Por esse motivo, eu, meio carioca e meio nordestino, saúdo sua chegada à literatura brasileira, pois me senti assim lendo seus contos: um Brasil inteiro.

QUEM É MARLENE DE LIMA 
 
Marlene Santos de Lima, alagoana de Maceió, pertence a uma família de marítimos. Filha de um prático do porto que morreu em serviço e foi substituído pelo filho mais velho, por isso o mar e o cais aparecem com frequência em suas narrativas.

A princípio influenciada pelo cordel. Depois, pela leitura dos clássicos de nossa literatura. Radicada no Rio de Janeiro, onde se formou em Letras pela UFRJ e cursou especialização na UERJ, as vivências da cidade grande povoam, na mesma medida, seu universo ficcional.

Teve textos publicados no "Rascunho", jornal literário de Curitiba. Seu conto "Matinê" foi premiado pela Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba-SP, em 2009. No Rio, conheceu os meandros das repartições públicas por último como secretária de audiências na Justiça do Trabalho, o que igualmente deu matéria para construção de hisstórias e personagens. Escreve esporadicamente para a revista "Ideias", do Sindicato dos Servidores das Justiças Federais.

É professora de língua portuguesa e literatura.

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