Escritora teve 119 votos contra 58 de Adib Jatene
“Para
receber o Juca Pato vou até de padiola”. Foi assim, esbanjando a
alegria de uma menina de 93 anos, mesmo com a mobilidade restrita, que
Tatiana Belinky reagiu quando o presidente Joaquim Maria Botelho
perguntou-lhe onde gostaria de receber o Troféu Juca Pato como ganhadora
do Prêmio de Intelectual do Ano. Ela obteve 118 votos contra 58 do
cardiologista Adib Jatene, A entrega do prêmio deverá ser no auditório
da Academia Paulista de Letras, em data ainda a ser confirmada.
A
escritora que nasceu na extinta União Soviética e veio para o Brasil
com 10 anos, concorreu com a mais recente de sua rica produção de contos
e poesias para crianças: Língua de Criança - Limeriques às soltas, livro lançado pela Global Editora em 2011. A disputa entre ela e o cardiologista Adib Jatene – que concorreu com olivro 40 anos de Medicina – o que mudou? - em parceria com o ministro Alexandre Padilha, quebrou jejum de oito anos sem eleição direta do Prêmio Intelectual do Ano.
- A
disputa reuniu dois candidatos fortes e carismáticos, avaliou Joaquim
Maria Botelho, presidente da UBE. . Talvez, por isso, a eleição tenha
sido mais qualitativa do que quantitativa. Eles foram votados em pelo
menos 10 estados brasileiros e também por associados que moram nos
Estados Unidos, França, Alemanha, Costa Rica e Nova Zelândia.
Os dois candidatos tinham
um motivo a mais para aceitar a indicação dos associados da UBE e
enfrentar as urnas: este ano comemora-se o cinquentenário do Troféu Juca
Pato, personagem criado pelo jornalista e cartunista paulista Benedito
Bastos Barreto, o Belmonte, e que foi transformado em troféu pelo
escritor Marcos Rey para homenagear o Intelectual do Ano. No ano
passado, o Prêmio Intelectual do Ano foi concedido, por unanimidade, ao
professor e pesquisador Aziz Ab’ Sáber, que recebeu o Troféu Juca Pato
na cerimônia de encerramento do Congresso Brasileiro de Escritores, em
novembro passado, no Theatro Pedro II, em Ribeirão Preto.
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A escritora que queria ser Emília
Ela
nasceu no dia 18 de março de 1919 na cidade de Petrogrado, antiga União
Soviética, e chegou ao Brasil com a família dez anos depois, fugindo da
perseguição aos judeus. “Sou mais brasileira que muitos brasileiros.
Estou aqui há 65 anos, há mais tempo que a maioria”, diz Tatiana, brava
com quem duvide de seu amor pelo Brasil. Tanto quanto pelas crianças,
combustível de sua fértil produção literária (cerca de 100 livros) ,
iniciada só em 1985 quando começou a escrever as primeiras Limeriques
(poemas com rima e métrica bem definidas), publicadas dois anos depois.
Filha
de Aron e Rosa, comerciante e cirurgiã-dentista, e irmã de Abram e
Benjamim, a menina Tatiana aprendeu a ler no idioma materno, o russo,
aos quatro anos de idade e até os dez já era fluente também em alemão.
Na adolescência, em São Paulo, trabalhou como secretária bilíngue. Em
1939, começou a estudar Filosofia na Faculdade São Bento, mas abandonou o
curso em 1940 em razão de seu casamento com o médico Júlio de Gouveia.
De
1948 a 1951, criou com o marido várias adaptações de histórias infantis
para teatro. Nessas encenações, Tatiana fazia o roteiro e o marido, a
direção. Em 1952, o casal encenou sua bem-sucedida adaptação “Os três
ursos” na extinta TV Tupi. Com o sucesso, a Tupi convidou o casal para
elaborar o programa “Fábulas Animadas”, preenchendo uma lacuna da
programação da época para o público infanto-juvenil. Em seguida, o casal
fez a primeira adaptação televisiva do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, de
Monteiro Lobato, exibida em horário nobre. Seguiram-se outros programas
de sucesso, sempre na linha de adaptações para o público
infanto-juvenil, que estiveram no ar até 1966.
Esses programas tinham sempre o propósito explícito de estimular a
leitura entre os jovens, criando nestes a curiosidade de ler os
originais das adaptações.
Paralelamente
ao trabalho de roteirista de teatro e televisão, Tatiana Belinky deu
início, em 1952, à atividade como tradutora literária, iniciada com suas
adaptações de peças de teatro infantis e contos russos. Traduziu mais
de 80 livros do russo, alemão, inglês e francês. Entre os textos que
traduziu e adaptou estão obras de autores como Dostoiévski, Tolstói,
Gorki, Gogol, Turgueniev, Goethe, Brecht, Irmãos Grimm e Lewis Carroll.
Sua especialidade sempre foi a literatura infantil russa, ajudando a
divulgar a cultura russa entre crianças e adolescentes. O reconhecimento
de seu trabalho rendeu-lhe o Prêmio Monteiro Lobato de Tradução em
1988 e 1990.
Também
atuou, a partir de 1972, como crítica de literatura infanto-juvenil e
de teatro, como colaboradora dos jornais Folha de São Paulo, O Estado de
São Paulo e Jornal da Tarde e da TV Cultura.
Tatiana
Belinky é autora premiada em literatura e teatro. Recebeu o Prêmio
Mérito Educacional em 1979 e o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária
do Ano em 1989, entre outras premiações.
Em
1994, deixou de atuar como tradutora, mas não abandonou sua atuação
como escritora, dedicando-se também a livros de contos e memórias. Em
2010, Tatiana Belinky foi eleita para a Academia Paulista de Letras,
onde receberá o Troféu Juca Pato como Intelectual do Ano.
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