Li o livro “O que é uma cidade criativa”, de Elsa Vivant, editora Senac. Boa leitura para quem trabalha com cultura ou com qualquer ramo da administração pública.
Nele a autora inseriu dois artigos, graficamente destacados. Abaixo, reproduzimos o segundo.
Os artistas de Nova Orleans em destaque
O engajamento dos artistas na reconstrução de uma cidade
ou de um bairro é por vezes um ato cívico e político.
O renascimento de Nova
Orleans foi iniciado em grande parte pelos atores culturais, chocados pela
incúria dos serviços públicos depois dos efeitos devastadores do furacão Katrina.
Centenas de pessoas morreram n a tragédia, dezenas de
milhares de famílias fugiram da cidade, abandonando seus próprios bens, suas
casas, seus amigos, seus hábitos. Raras são aquelas famílias que voltaram. Em
alguns bairros, um terço das casas ficou abandonado, sem que os proprietários
tivessem condições de repará-las. A economia local foi à ruína, milhares de
empregos foram perdidos, milhares de cidades não voltarão à cidade.
Os artistas testemunharam a catástrofe por meio de suas
obras, de seus efeitos e da forma como são percebidas pelos habitantes. A parte
sul do French Quarter, antigo bairro de entrepostos e que agora abriga inúmeras
galerias de arte e os principais museus da cidade, foi tomada, no inverno de 2009,
por um coletivo de artistas, encabeçado por um curador nova-iorquino, Dan Cameron,
que organizou uma bienal de arte contemporânea, a Prospect, dando vida à cena artísticas locas.
O destino do Lower Ninth Ward, bairro pobre e negro
destruído por maremoto provocado pela ruptura de uma represa, emocionou muitos
americanos. Escolas de urbanismo da Costa Leste foram até o local para fazer
levantamentos das destruições e colocar em prática programas de recuperação, junto
com associações locais.
Estrelas hollywoodianas criaram uma fundação a fim de
financiar a reconstrução das casas arrasadas pelo furacão. O ator Brad Pitt,
mensageiro dessa iniciativa, dá vazão ao seu gosto pela arquitetura
contemporânea ao mobilizar arquitetos de renome na construção de casas
ecológicas e de baixo custo, destinadas às vítimas do furacão.
O comprometimento dos artistas em devolver um valor de uso
à cidade talvez implique na instalação de novos moradores, vindos de fora, de
categorias sociais de elite. Algumas agências organizam visitas turísticas aos
bairros assolados pelo furacão, mas a responsabilidade pela gentrificação (rivalização)
desses bairros não deve ser imputada aos artistas: a destruição causada pelo
Katrina e a inação públicos esvaziaram a cidade de seus pobres e de seus negros,
liberando espaço para novos moradores.
No caso de Nova Orleans, o envolvimento dos artistas é ao
mesmo tempo uma manifestação de apoio às populações locais – principalmente por
parte de jazz,entre os quais alguns perderam instrumentos na catástrofe –e uma
denúncia da irresponsabilidade e das negligências da administração de George
Bush.
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