Por Altamiro Borges, em seu blog.
Saiu neste sábado (1) na coluna de fofocas de Felipe Patury, da revista Época: “No próximo dia 22, em São Paulo, sai da Praça da República rumo à Catedral da Sé a segunda edição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A original fez, em 1964, percurso semelhante dias antes de o ex-presidente João Goulart ser derrubado. Há 50 anos, a organização coube a então primeira-dama do estado, Leonor de Barros, e a mulheres de empresários. A atual foi convocada pelas redes sociais, recebeu apoio de lideranças evangélicas e, pelo Facebook, da apresentadora Rachel Sheherazade, do SBT. O grupo diz contar com a simpatia do filósofo Olavo de Carvalho e até de Denise Abreu, a petista que mandou na aviação civil no governo Lula e ficou famosa por sua predileção por charutos”.
De imediato, dei risada! Pensei que era piada carnavalesca. Mas não é. A patética marcha, que relembra a ação dos golpistas em 1964, está marcada para 22 de março e a âncora do SBT, que explora uma concessão pública de tevê, realmente está metida na sua convocação. Em sua página no Facebook, a nova musa de direita conclama seus seguidores: “Gente boa, sempre vou defender a família. Participe da marcha, divulgue, mostre sua defesa em favor dessa instituição criada por Deus”. E Rachel Sheherazade não é ingênua. Ela sabe que a tal marcha nada tem a ver com Deus ou a família, termos usados para enganar os mais ingênuos e tapados. Num dos sítios que convoca a manifestação ficam explícitos os seus objetivos golpistas e fascistóides.
A marcha tem como principal intento exigir “intervenção militar constitucional já”. Entre outras bandeiras, ela prega: “1- destituir a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer; 2- dissolver o Congresso Nacional; 3- prisão de todos os conspiradores por servirem aos interesses estrangeiros através do Foro de São Paulo, uma invasão sigilosa do território nacional executada pelo regime de Cuba através de agentes infiltrados; 4- dissolução de todos os partidos e investigação com punição das organizações integrantes do Foro de São Paulo; 5- Intervenção em todos os governos estaduais e municipais e nos seus respectivos legislativos; 6- combate à corrupção e à subversão; 7- intervenção no STF, cuja presença de ministros simpáticos aos conspiradores é clara e evidente”.
Já um folheto distribuído pelas ruas da capital paulista afirma que “há 50 anos, no dia 19 de março de 1964, nossos pais e avós foram às ruas e conseguiram a redenção do povo brasileiro. Eles tiveram coragem. Agora é a nossa vez”. O panfleto prega “intervenção militar constitucional” e rosna: “Fora o comunismo, o marxismo e as doutrinas vermelhas”; “Não seremos uma nova Cuba nem uma nova Venezuela”. Outro texto critica “a contratação de médicos cubanos e os gastos para a realização de grandes eventos esportivos no Brasil” e conclama: “Todos juntos nas ruas dizendo um não à tirania do PT, em apoio aos irmãos venezuelanos e contra a ditadura esquerdista… Todos em defesa da nossa pátria. Nossa bandeira é verde e amarelo e não foice e martelo”.
A apresentadora do SBT se soma a estas mensagens – um misto de fanatismo direitista e maluquice fascista. Em sua página no Facebook, os fiéis seguidores elogiam sua “coragem” e chegam a lançá-la para disputar cargos eletivos. Amilton Augusto, por exemplo, defende “Joaquim Barbosa (presidente) e Rachel Sheherazade (vice-presidente)”. Elias Machado comenta: “Não sei se ela tem vocação política, mas seria uma ótima opção para presidente”. Já Arthur Roque declara: “Eu apoio a intervenção militar. Somente isto para acabar com esta corja de comunistas. Está na hora do pau! Avante general Heleno, avante Jair Bolsonaro”. Só falta a emissora de Silvio Santos estampar uma convocatória para a “Marcha da Família”!
PS. Cafezinho: uma leitora me avisa que a Sheherazade postou em suas redes hoje que não é autora do texto. Deu a entender que o perfil que compartilhou é fake. Sei não. Demorou demais. Parece um recuo, ordenado por seu patrões do SBT, após a repercussão negativa. De qualquer forma, é um caso típio do “se non è vero è ben trovato”. Esperamos publicação de errata na coluna da revista Época que primeiro deu a informação.
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