Hélio Consolaro*
Nas discussões sobre marxismo de minha juventude,
defendia-se a posição que o artista deve ser engajado nas lutas sociais e
políticas.
Até Milton Nascimento cantou que “Todo artista tem de ir
aonde o povo está” que, de uma forma figurada, defende o engajamento do artista
nas causas populares, saindo do isolamento da torre de marfim.
Outra discussão é o foco do fruidor sobre a obra de arte. Se
ele deve gostar do artista ou da obra. Adoro as obras de um escritor, mas fico
com o pé atrás, porque seu autor tem uma ideologia diferente da minha, por
exemplo.
O quadro é excelente, mas o pintor é um canalha. Até onde o
fruidor pode rejeitar a obra porque não concorda com seu autor. Isso ocorre da
direita para a esquerda, como também da esquerda para a direita.
Escrevendo em tese é uma delícia, mas quando se chega ao
concreto, o processo é doloroso. Adoro Nei Matogrosso como cantor, mas sua posição política na última Copa do Mundo, dizendo em entrevista na tevê
portuguesa que o governo brasileiro não ia dar conta em construir 12 estádios,
achincalhando tudo. Havia sido um erro o Brasil sediar a copa. Falou tudo isso
com raiva na voz, nos gestos. Essa atitude dele me deixou chateado. Deixei de
ouvi-lo até passar a raiva.
Tive o mesmo sentimento com Paulo Coelho. Não sou leitor
dele, mas defendo-o dos ataques dos intelectualoides, chamando-o de escritor da
subliteratura.
Paulo Coelho também foi escalado para falar mal da Copa do
Mundo ter como sede o Brasil. Os dois (e mais alguns) montaram num porco, meteram
os pés na jaca. Não sei como tais artistas estão hoje diante de seus fãs,
porque não foi uma questão de opinião, foram mentirosos.
Nessas horas doloridas, tanto de um lado como de outro,
chegamos a desejar que o artista agisse como o comerciante: não ter lado para
não perder a freguesia.
Pensando bem, seria interessante que o artista se engajasse,
sim, na defesa dos valores universais, na defesa dos direitos humanos e da
democracia, mas que não entrasse de peito na defesa de uma causa partidária,
porque sabemos que muitos bons artistas mancharam suas biografias defendendo
governo autoritário de seu respectivo país.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
Boa noite muito bem postada a matéria sobre Eduardo Campos.Parabéns Hélio você continua sendo o grande comentárista das grandes reportagens de nossa região e todo Brasil.Oridão Birigui 997040010
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