Hélio Consolaro*
Outro dia discutíamos numa roda de amigos sobre o fulano de
tal que não sabia conviver com o sucesso. Bastava estar por cima da onda para
logo sujar o trecho, parecia uma sina. Sempre foi feio o patinho feio, por isso
o insucesso, o fracasso são lhe coisas familiares, não tinha acumulado
experiências de sucesso na vida, não adquiriu habilidades para tanto.
Recomendaram-lhe psicanálise, mas como? Sujeito se deitar no
divã e abrir a mala, fechada a sete chaves, só sob enxurrada de lágrimas. Isso
não era para ele, prefere morrer fracassado.
Fiquei a pensar sobre essa observação. Eu também tenho esse
problema, não posso ficar feliz, cheio de si, que logo faço besteira. Quando
estou muito feliz, peço para um amigo me bater na cara para que eu volte ao normal,
que é ser triste.
Para quem viveu sempre deprê por causa da pobreza, das
agruras da vida, com os conflitos familiares, dos bullyings da vida, tem uma
dificuldade enorme de ser feliz, fica meio bobo diante da felicidade, abre as
guardas e logo faz besteira. Assim, a tristeza volta a morar em seu coração.
A minha felicidade só pode ser construída por mim, diz as
lições de autoajuda, ela não depende dos outros, mas não é bem assim, porque eu
aprendo a ser triste ou alegre com os outros, começando com a família.
Mas há quem diga que o sujeito feliz é esquisito, meio
infantil, bobo, chato. E que é no estado depressivo que os artistas produzem as
melhores obras. Salve a depressão! Ela é responsável por museus recheados onde
os medíocres felizes se rendem à inteligência depressiva.
Você percebeu, caro leitor, que a questão de convivência com
o sucesso e ser feliz são temas controversos. Quando estou assim e ainda
sobrepõe o cansaço de um dia estafante, tomo uma cerveja, como ansiolítico,
durmo bem. Se a raiva é grande, então escrevo, porque não quero ser um assassino.
Alguém já disse isso, não sei se foi Vladimir Maiakovsk, porque a internet se
cala diante de tal frase.
Certa vez, uma psicóloga quase me endoideceu dizendo que eu
devia ser diferente. Aprendi a ser assim, a conviver com meus aleijões, sei
onde buscar alguns remédios dentro de mim mesmo, a me aceitar como sou, então, foda-se. Essa é a
minha formatação. A alegria de ser o que é.
Se ninguém é perfeito, deixe-me ser um torto, um gauche na
vida, como escreveu Drummond. De vez em quando, cheio de mim.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
No fundo Professor, todos nós somos assim. Um abraço.
Emerson Sumariva Júnior, Juiz de Direito da 3a. Vara Criminal de Araçatuba e Professor Universitário.
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