AGENDA CULTURAL

19.11.15

Solidariedade, sim e não

Hélio Consolaro*

Basta acontecer uma tragédia em nosso país para surgir por todos os lados campanhas de arrecadação de alimentos, roupas, etc. Confesso, caro leitor, que fico com um pé atrás com tais iniciativas, pois é chegada a hora dos espertos aplicarem o golpe.

Muitos se comovem com a tragédia, amolecem os corações e abrem suas carteiras. É a hora dos mal-intencionados aparecerem. Meses depois da tragédia, surgem as notícias dos desvios das doações. Isso irrita qualquer cidadão.

Não vamos colocar todos no mesmo balaio. O Rotary lá de Minas, organização da qual pertenço, que está no local dando assistência recebe doações: governadora distrital do D. 4520, 2015-2016, Tânia Maria Diniz Andrade, nomeou o governador assistente de Governador Valadares para receber doações: Dirceu Vieiras Correa, celular: 31 99147 5479.

A tragédia foi programada. Quando estive em Mariana, anos atrás, vi que aquela cidade tem seu solo todo escavado com longos túneis desde a época colonial, parecendo um queijo suíço.


Recentemente o governo do PSDB privatizou tudo por lá, deixando sem a fiscalização devida. É bom lembrar que os tucanos governaram Minas até 2014, e Aécio Neves foi governador lá por duas vezes, perdendo a eleição para presidente em seu próprio estado. Alerta, está para ser votado no Congresso Nacional leis mais permissivas (Marco Regulatório da Mineração) para as mineradoras, contra a população. A lei é necessária, mas não com as emendas de parlamentares que tiveram suas campanhas eleitorais sustentadas por mineradoras. 
   
Quanto à tragédia francesa, ataque terrorista, Dalai Lama foi incisivo na sua orientação. Declarou que não adianta levantar as mãos para o céu e nem fazer orações, porque aquilo não tem nada a ver com Deus, pois foi uma desgraça construída pelos próprios homens. E com a tragédia de Mariana não é diferente. Devemos, isso, sim, nos preocupar mais com nossas ações, por mais pequenas que sejam.

Aproveitando o assunto solidariedade, tenho a dizer que Dia da Criança e Natal são datas oficiais da prática da solidariedade. Presentinho de cá, presentinho de lá. Há muita gente lavando a consciência distribuindo bugigangas.

Como não tenho lembrança de ter ganho algum presente nessas datas, nem meus pais nos puseram para pedir boas festas nas esquinas ou nas casas, pobre, mas mantendo a dignidade, sou meio cético a tudo isso.


Além dessa trajetória de vida permeada pelo rigor, pensei comigo se eu não estou ficando muito desconfiado com as coisas por causa da idade. Sim e não, afinal a vida nos dá severas surras e gato escaldado com água quente, desconfia até da água fria. Por outro lado, quando dou moedas para alguém (atitude rara em mim ultimamente), nunca me preocupei se o pedinte vai tomar pinga ou não. 
Problema dele, que administre a minha ajuda ao seu jeito.

O cronista fala sobre tudo, se revela e divide seus traumas, mas espero ter compartilhado com você, caro leitor, minhas preocupações sobre a nossa hipocrisia social de cada dia. Solidariedade, sim; descargo de consciência, não.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP


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