Hélio
Consolaro*
Basta
acontecer uma tragédia em nosso país para surgir por todos os lados campanhas
de arrecadação de alimentos, roupas, etc. Confesso, caro leitor, que fico com
um pé atrás com tais iniciativas, pois é chegada a hora dos espertos aplicarem
o golpe.
Muitos se
comovem com a tragédia, amolecem os corações e abrem suas carteiras. É a hora
dos mal-intencionados aparecerem. Meses depois da tragédia, surgem as notícias
dos desvios das doações. Isso irrita qualquer cidadão.
Não vamos
colocar todos no mesmo balaio. O Rotary lá de Minas, organização da qual
pertenço, que está no local dando assistência recebe doações: governadora distrital
do D. 4520, 2015-2016, Tânia Maria Diniz Andrade, nomeou o governador
assistente de Governador Valadares para receber doações: Dirceu Vieiras Correa,
celular: 31 99147 5479.
A tragédia foi
programada. Quando estive em Mariana, anos atrás, vi que aquela cidade tem seu
solo todo escavado com longos túneis desde a época colonial, parecendo um
queijo suíço.
Recentemente
o governo do PSDB privatizou tudo por lá, deixando sem a fiscalização devida. É
bom lembrar que os tucanos governaram Minas até 2014, e Aécio Neves foi
governador lá por duas vezes, perdendo a eleição para presidente em seu próprio
estado. Alerta, está para ser votado no Congresso Nacional leis mais permissivas
(Marco Regulatório da Mineração) para as mineradoras, contra a população. A lei
é necessária, mas não com as emendas de parlamentares que tiveram suas campanhas
eleitorais sustentadas por mineradoras.
Quanto à
tragédia francesa, ataque terrorista, Dalai Lama foi incisivo na sua
orientação. Declarou que não adianta levantar as mãos para o céu e nem fazer
orações, porque aquilo não tem nada a ver com Deus, pois foi uma desgraça
construída pelos próprios homens. E com a tragédia de Mariana não é diferente.
Devemos, isso, sim, nos preocupar mais com nossas ações, por mais pequenas que
sejam.
Aproveitando
o assunto solidariedade, tenho a dizer que Dia da Criança e Natal são datas
oficiais da prática da solidariedade. Presentinho de cá, presentinho de lá. Há
muita gente lavando a consciência distribuindo bugigangas.
Como não
tenho lembrança de ter ganho algum presente nessas datas, nem meus pais nos
puseram para pedir boas festas nas esquinas ou nas casas, pobre, mas mantendo a
dignidade, sou meio cético a tudo isso.
Além dessa
trajetória de vida permeada pelo rigor, pensei comigo se eu não estou ficando
muito desconfiado com as coisas por causa da idade. Sim e não, afinal a vida
nos dá severas surras e gato escaldado com água quente, desconfia até da água
fria. Por outro lado, quando dou moedas para alguém (atitude rara em mim
ultimamente), nunca me preocupei se o pedinte vai tomar pinga ou não.
Problema
dele, que administre a minha ajuda ao seu jeito.
O cronista
fala sobre tudo, se revela e divide seus traumas, mas espero ter compartilhado
com você, caro leitor, minhas preocupações sobre a nossa hipocrisia social de
cada dia. Solidariedade, sim; descargo de consciência, não.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura
de Araçatuba-SP
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