AGENDA CULTURAL

20.1.16

Moscas em torno da bosta

Hélio Consolaro*

Caro leitor, se não gosta de nada escatológico, pule de página, porque há momentos na vida em que não cabem outras palavras.

A bosta (não estou falando merda de propósito) é tratada como excremento, o desprezível sendo expelido por nosso corpo. Temos dois prazeres, comer, sentir-se satisfeito, usinar o bolo alimentar e expelir as fezes, que consideramos fedidas.
O ciclo alimentar não se esgota aí, há quem se alimente da bosta dos outros animais, como as moscas.

Não sou professor de fisiologia, trabalho com as questões linguísticas, portanto o que me interessa é a metáfora. Não é a bosta nem as moscas.

Lá perto de casa, que é um bairro de Araçatuba, há uma rua muito importante: a Marcílio Dias. Nela, há um quarteirão com 05 bosteiros, ou seja, 05 agências bancárias: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander e Itaú. Quarteirão com maior índice de assalto, um querendo tomar a bosta do outro.  

Enquanto as agências estão abertas, não há como estacionar carros num raio de cinco quarteirões. As moscas sobrevoam os cinco bosteiros com voracidade. Fechando as agências, aquilo vira um ermo.

Não tenho uma atitude desprezível quanto ao dinheiro, não o chamo de vil metal. Estou pondo a bosta como o segundo elemento da metáfora porque não achei outro. Um ET que olhasse de cima, não ia saber por que naquele pedaço há tantos veículos, principalmente na semana de pagamento.

O dinheiro é uma bosta para o imbecil que se acha o todo poderoso com contas bancárias recheadas. Ou aquele sujeito que se apega tanto a ele que nem gasta nada, vivendo uma vida miserável por medo de ficar sem dinheiro. E pior, no bosteiro não há bosta para todos, alguns cagam, outros consomem.

Caro leitor, conseguiu chegar até aqui com o texto? Você é mesmo um herói (ou heroína). Não repare não, perdoe a desnudez desse cronista que já devia, diante da idade que tem, ter tomado tenência. É que a vida de vez em quando é uma bosta, principalmente quando uma mosca não consegue chegar ao banco, como aconteceu comigo. 


*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

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