A artista plástica Flávia Maria Wolffowitz é expoente local
da tradição do kamishibai, arte de contação de histórias de origem japonesa
DA REDAÇÃO - ARAÇATUBA - Jornal O LIBERAL, 12/07/2016
Flávia Wolffowitz e Lee Ming Hui conquistam a atenção da
plateia com narrativas únicas ao estilo oriental
Quando a artista plástica Flávia Maria Wolffowitz chega, os
apreciadores de histórias orientais já sabem que algo mágico vai acontecer. Não
é difícil reconhecê-la: em sua "bagagem", ela traz uma bicicleta
cargueira, onde leva uma caixa de madeira e ilustrações em aquarela. Tudo faz
parte da arte do kamishibai.
Não é à toa que Flávia ganhou o codinome de "tia do
teatro de papel", que condiz com a arte que ela se dedica a difundir em
Araçatuba e região. Recentemente, ela levou seu trabalho para o mundo, em um
Festival de Contação de História no México. As apresentações aconteceram no
começo de junho, em Monterrey e Mérida.
"No primeiro dia do festival, contei com ajuda de um
amigo narrador (mexicano) que traduziu as histórias, mas, como não pôde me
acompanhar nos dias seguintes, comecei a narrar sozinha e em português. Para
nossa alegria, as crianças, os jovens e os adultos acompanharam a narração,
que, através das ilustrações, cativou e levou o público a interagir com
entusiasmo e alegria", diz Flávia.
Ela conta que foram muitos os apoiadores para essa
representação internacional no IV Festival Internacional de Kamishibai: Igreja
Tenrikyo Paineira; Associação Cultural Nipo Brasileira; professoras da Escola
de Difusão da Língua Japonesa de Araçatuba; parentes, amigos e empresários.
Na viagem ao México, Flávia se apresentou sozinha, mas ela
conta cotidianamente com a participação da cantora e flautista Lee Ming Hui,
que é natural de Taiwan, onde aprendeu a cantar e tocar instrumentos orientais
desde criança. Ela mora em Araçatuba há 7 anos. Ambas são amigas de longa data,
mas a parceria é mais recente.
SURGIMENTO
Para apreciar o trabalho dessa dupla, vale a pena saber um
pouco de como começou o kamishibai (kami=papel e shibai=teatro, drama).
Trata-se de uma arte baseada em histórias ilustradas, surgida nos templos
budistas do Japão, no século 12, quando monges usavam imagens para transmitir
contos e ensinamentos para a população praticamente analfabeta.
"Eram rolos de pergaminhos ilustrados combinados com
narração, imagem e movimento. O teatro kamishibai floresceu na década de 1930,
durante a depressão econômica, quando as pessoas foram para as ruas à procura
de uma maneira de sobreviver. O kamishibai ofereceu essa oportunidade para os
artistas e contadores de histórias que conseguiam seu sustento vendendo doces,
balas e guloseimas", explica Flávia.
A contadora de histórias de Araçatuba mantém a tradição como
ela acontecia lá no passado, levando seu pequeno teatro de madeira (butai) em
sua bicicleta e, com cartões ilustrados, narrando as histórias.
"Na década de 1950, quando surgiu a televisão, esse
teatro ficou associado à pobreza e ao atraso, por ser uma arte de rua. O
kamishibai nunca morreu inteiramente, pois suas histórias estão sendo
publicadas e utilizadas para fins educacionais, podendo ser encontradas em
escolas e bibliotecas em todo o Japão", completa Flávia.
As histórias narradas por Flávia falam de temas universais:
amor, morte, terror, gratidão, deuses (Xintoísmo), sobre os samurais e imperadores,
o homem simples, humilde e sofredor. Além de monstros, super-heróis e seres
mitológicos.
Chama a atenção o fato de que muitas histórias de amor não
terminam como os contos de fadas que conhecemos no ocidente. Portanto, não
estranhe se ao assistir um espetáculo de kamishibai, os jovens se casarem,
desentenderem, separarem e serem infelizes para sempre.
"Quando vou fazer uma apresentação, sempre converso com
meu butai, pedindo que ele me diga quais histórias devo apresentar e, por
enquanto, ele está fazendo as escolhas certas", afirma Flávia, que
trabalha hoje com sete histórias.
Para as próximas atrações, ela conta que está trabalhando
com outra história, que foi traduzida do mandarim pela flautista Lee.
"Através de sua flauta e de sua voz cativante, Lee tem tornado as
apresentações de kamishibai inesquecíveis, propondo uma nova maneira de ouvir e
apreciar os contos de antigamente", ressalta, sobre a parceira.
A artista está com a agenda bastante cheia, pois, por meio
de edital de contação de histórias da Secretaria da Cultura, teve a
oportunidade de realizar apresentações na Biblioteca Municipal, nas
festividades do Nipo Araçatuba, Igreja TenriKyo Paineira, Templo Budista Nambei
Honganji de Araçatuba e vários espaços de difusão cultural.
Para as férias de julho, Flávia ainda reservou uma surpresa
para a criançada, o projeto Picnic de Palavras, que levará à praça Getúlio
Vargas, no próximo sábado (16), às 16h. "Trata-se de uma experiência de
leitura para crianças e adultos, com um seleto menu de livros para serem
saboreados e degustados ao ar livre, um verdadeiro banquete de histórias."
Gratuito.
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