AGENDA CULTURAL

24.6.17

Criança não namora. Nem por brincadeira?

Essa brincadeirinha do namoro infantil é uma aprendizagem para a identidade sexual 
http://pensamentoliquido.com.br/crianca-nao-namora-nem-de-brincadeira

Hélio Consolaro*

Não leve muito a sério, caro leitor, as palavras deste croniqueiro que nasceu na primeira metade do século passado. Essa minha carroça de anos "na cacunda" não me faz pôr tanta força na fé da razão e na valorização demasiada da ciência, não desprezo outras formas de conhecimento, como a arte e a filosofia.

Não desprezo a ciência, mas as palavras tradição e erro não são sinônimas. As quatro áreas de saberes, como: tradição, filosofia, ciência e arte são complementares.

Se seguir a toada da primazia da ciência, daqui a pouco contar histórias infantis, brincar de casinha, para ficar apenas em dois exemplos, serão todas politicamente incorretas.



Quando eu era molecote no bairro rural da Água Limpa, me arrumaram uma namorada. Assim conta minha mãe. Hoje, a menininha daquela época é uma senhorinha em Araçatuba e não houve consequências.

A minha neta de quatro anos chegou me dizendo bem baixinho que tinha um namorado na escola. Perguntei-lhe se era bonito, claro que ela respondeu "sim". Na verdade, era apenas um amiguinho mais próximo. Essa brincadeirinha do namoro infantil é uma aprendizagem para a identidade sexual. 

Se antes do Iluminismo (surgimento da Psicologia), as crianças eram igualadas aos adultos, não havia a divisão do ser humano em faixas etárias, hoje descobriu-se que a criança é um adulto em formação.



Atualmente, há uma tendência para a sexualização das crianças, não concordo com isso, mas não chego a recomendar que pai e mãe não se beijem na frente dos filhos (não estou falando de beijo de cinema). O beijo, no caso, é uma demonstração de amor, uma lição vital para a própria criança de que ela é fruto do carinho entre duas pessoas. 

Entre a sexualização das crianças pela mídia e as simples brincadeiras entre família, como também elas brincam de casinha, há uma grande diferença. Já sabemos que o jogo do faz-de-conta tem caráter educacional, um preparo da criança para a vida adulta.   

Ruim mesmo é pais ensinarem aos filhos gestos e frases obscenas, como se estivessem educando o filho (menino) para serem machos, com medo da homossexualidade. 

Não se pode exagerar, fazer da vida um mar de ignorância ou uma obediência cega de profissionais (até PhD) que recitam tantas recomendações na mídia, como se fossem curandeiros ou feiticeiros do século 21.

*Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras

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