Alberto Consolaro*
(JC 01/05/2017)
Quando você conversa com ignorantes é fácil lembrar que todos nascemos assim e nos transformamos. Nunca me estresso com tais pessoas porque fui um deles. Difícil é conviver com ignorantes que se acham inteligentes e cultos, eu diria que é quase impossível e insalubre, pois se permeia às más intenções!
A crise não tem nada de contábil, o que falta é diálogo, ética, tolerância e coerência do que se exige dos outros com o que se faz em casa! Nas discussões falta elegância e cortesia, sabedoria e paciência, mas acima de tudo falta honestidade! Quase todos se acham donos da verdade e onde existe soberba e ignorância predominando, é melhor se recolher! Egoísmo e burrice campeiam entre nós, mas ainda assim sou otimista!
Um comentarista disse que a crise não é ideológica e sim contábil. Pode ser por não se levar "em conta" as mentiras, manipulações e a falta de vergonha na cara das pessoas mal intencionadas que defendem as reformas em pauta. Muitos defendem por ignorância, mas a maioria dos que defendem são por má intenção; aos primeiros peço meu perdão pela abordagem incisiva.
Com todas as letras: a reforma previdenciária é mentira e golpe. A arrecadação para as aposentadorias é muito superavitária e todos reconhecem isto, mas na comunicação com a população se coloca que as contas são deficitárias! O que é deficitária é a prestação de serviços da saúde e a assistência social que tecnicamente nunca foram previdência! Mas o governo põe tudo no mesmo cesto para conseguir o intento para beneficiar o mercado da previdência privada bancária!
O que dá rombo são os serviços de saúde e de assistência social e não as aposentadorias. O que se arrecada para aposentadorias é superavitário e muito! Saúde e assistência social tem que ser tratadas à parte da previdência. Tem que se melhorar a gestão da saúde e a assistência social, acabando com a roubalheira nestas duas atividades! E não mexer no que dá lucro e funciona como é a previdência!
Bancos, que são os donos dos serviços de previdência privada e dos planos de saúde, querem acabar com o que é público. Os bancos são os maiores devedores da previdência e da saúde! Não querem pagar pelo atendimento que o SUS gasta com seus clientes segurados.
Se os bancos e seus serviços de previdência e de saúde pagassem suas contas em dia, esta crise não existiria.
Se diz que a terceirização e a reforma trabalhista vai modernizar as relações de trabalho, só se for modernizar a antiga escravidão que ainda existe em alguns rincões. Muitos acreditam que é só o trabalho que enriquece e promove ascensão social. Não é verdade, pois apenas aqueles que têm uma base mínima familiar e social conseguem subir na vida.
A família e o estímulo social são fundamentais para um pobre ser alguém diferenciado. Uma rede social e legislativa de proteção aos mais pobres é o mínimo para se dizer que somos sociedade digna!
Muitos dizem: se o pobre quer ser alguém, que trabalhe! Mentira, só se vai chegar lá com a ajuda de alguém e ou assistência social. Os que chegaram lá e hoje são fortes, apenas chegaram porque alguns fracos se uniram para ajudá-lo.
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Um médico cujos estudos foram pagos pelos seus pais e só depois começou a trabalhar, não pode dizer que era um pobre que chegou lá! Ele foi um rico ao nascer em um lar pobre e no qual não se olvidou esforços pra lhe dar o melhor e aí sim chegar lá! Todo forte hoje, alguns fracos lhe ancoraram por anos de vida e despesas!
No dia 22 de abril cientistas de 60 países se manifestaram contra a perda de prestígio e por mais verbas. A imprensa destacava que os pesquisadores gostam de ficar reclusos, sem participar e se posicionar na vida política e pública, nem de se exporem e que preferem ser neutros! Deu no que deu: Trump, Temer e outros "governos" estão destruindo a estrutura de pesquisa e a ciência.
Ficar em cima do muro e adotar a neutralidade é assumir a omissão. Os cientistas com Hitler e Stalin foram neutros e acabaram como comparsas de crimes horríveis contra a humanidade.
Prefiro ter parâmetros nos cientistas de verdade como Rudolf Virchow, Osvaldo Cruz e Albert Einstein: ousados, inteligentes, de posturas firmes bem definidas em suas vidas pessoais e profissionais, sempre comprometidos com a verdade e seu povo!
*Alberto Consolaro é professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no Jornal Cidade
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