Hélio Consolaro*
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A vizinha tinha um canteiro sortido de plantas
medicinais no seu quintal - cultivado à moda antiga. Galhinho disso, chá para
aquilo, muita conversa no portão. A sua casa era uma farmácia fitoterápica.
Um dia Dona Doquinha desconfiou, não se sabe como, se foi obra do capeta ou coisa da velhice, ela contratou um jardineiro e ordenou:
- Corta tudo! Não quero uma raizinha.
- Não posso levar para mim, replantar na minha chácara essa riqueza? - perguntou o jardineiro.
- Não. Vou queimar o que for arrancado! Não quero que brote - respondeu Dona Doquinha.
Ninguém sabia o motivo de tal violência, ou vingança. Se houvera alguma desfeita, surgiram no entorno várias versões para a busca dos motivos da atitude.
Seu Joaquim, um sujeito sem religião, mas cheio de interpretações para as coisas do mundo já fez um discurso na roda de conversa do boteco da esquina:
- Só age assim quem acredita no amor puro, não sabe que as pessoas agem apenas sob a força de seus interesses.
Um dia Dona Doquinha desconfiou, não se sabe como, se foi obra do capeta ou coisa da velhice, ela contratou um jardineiro e ordenou:
- Corta tudo! Não quero uma raizinha.
- Não posso levar para mim, replantar na minha chácara essa riqueza? - perguntou o jardineiro.
- Não. Vou queimar o que for arrancado! Não quero que brote - respondeu Dona Doquinha.
Ninguém sabia o motivo de tal violência, ou vingança. Se houvera alguma desfeita, surgiram no entorno várias versões para a busca dos motivos da atitude.
Seu Joaquim, um sujeito sem religião, mas cheio de interpretações para as coisas do mundo já fez um discurso na roda de conversa do boteco da esquina:
- Só age assim quem acredita no amor puro, não sabe que as pessoas agem apenas sob a força de seus interesses.
Um sambista habituê do bar acrescentou:
- Há um samba que diz que o cachorro é o melhor
amigo do homem porque não conhece dinheiro.
Todos riram. E Seu Joaquim continuou:
- Dona Doquinha descobriu que as pessoas a procuravam por causa das plantas, não era por ela mesma, não existia o amor puro no relacionamento. O filho ama a mãe porque ela cuida dele; a mãe ama o filho porque nele está a continuidade genética de seu ser. Ela continua nele. Nem todos os interesses são ruins, mas são interesses - concluiu Seu Joaquim. Esse negócio de “amor fino” do Pe. Vieira é balela.
Alguns apenas balançavam a cabeça, concordando ou discordando com a desnudez filosófica do vizinho. Houve até quem expressasse a contrariedade em voz alta:
- Eu acredito no amor puro, Seu Joaquim. Se há interesse, não há amor.
E assim, ninguém mais visitou a casa dela. Passou a viver amuada. Perdeu a saúde, morreu depois de um ano. Na verdade, só havia suspeitas do motivo.
- Dona Doquinha descobriu que as pessoas a procuravam por causa das plantas, não era por ela mesma, não existia o amor puro no relacionamento. O filho ama a mãe porque ela cuida dele; a mãe ama o filho porque nele está a continuidade genética de seu ser. Ela continua nele. Nem todos os interesses são ruins, mas são interesses - concluiu Seu Joaquim. Esse negócio de “amor fino” do Pe. Vieira é balela.
Alguns apenas balançavam a cabeça, concordando ou discordando com a desnudez filosófica do vizinho. Houve até quem expressasse a contrariedade em voz alta:
- Eu acredito no amor puro, Seu Joaquim. Se há interesse, não há amor.
E assim, ninguém mais visitou a casa dela. Passou a viver amuada. Perdeu a saúde, morreu depois de um ano. Na verdade, só havia suspeitas do motivo.
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