AGENDA CULTURAL

13.8.20

Folclore e cultura popular


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Ex-secretário municipal de Cultura - 2009-16  Araçatuba-SP 

Agosto, mês do folclore, principalmente o dia 22, já foi mais comemorado. Durante o novo governo brasileiro, eleito em 2018, que não deu a devida atenção à cultura; e neste ano da pandemia, o problema foi agravado ainda mais. O folclore tem sido pouco lembrado, com as escolas fechadas, espetáculos proibidos.

Nas entrelinhas da história, percebe-se que antigamente a elite intelectual tinha a concepção de que povo pobre e analfabeto não tinha cultura, formava-se a "plebe ignara". Tratava-se como cultura o saber requintado, a arte feita nos templos eruditos. Só havia cultura se lessem, escrevessem, assistissem a espetáculos de teatro e de músicas clássicas.

A partir da criação da palavra folclore, vieram o conceito e a teoria. Isso quis dizer que o saber do povo não seria mais ignorado. Numa época em que o cientificismo era o senhor, valorizar o saber popular como fez William John Thomas foi um passo importante.  

Um cidadão inglês, William John Thoms, em 1846, inventou uma palavra composta por duas outras: folk (povo) e lore (saber), formando então folclore. Apenas em 1965 que o Brasil, para mostrar que estava interessado no assunto, criou o Dia do Folclore, sendo escolhida a data de 22 de agosto.  

Atualmente, surgiu o conceito de cultura popular que abraça o que está acontecendo nas ruas da cidade, nas periferias das metrópoles, enquanto o folclore tem como objeto a cultura popular já cristalizada que se torna espetáculo nos dias atuais. No Brasil, geralmente ligada à zona rural. 

A queima do alho, por exemplo, é uma festa que lembra nosso folclore, mas que foi uma realidade dos boiadeiros quando paravam a boiada e a tropa se alimentava.

A folia de reis era um momento de festa religiosa na zona rural de nossa região, costume trazido de Minas Gerais e Bahia, onde se misturavam também a cultura africana e indígena.

Lembrar os festejos populares de épocas passadas é conservar a memória cultural de nossa população. Rodeio, por exemplo, era uma atividade de lazer dos peões nas paradas. E hoje é uma atividade da economia criativa da cidade de Barretos-SP.

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) criada junto com a UNU trabalha com os conceitos de cultura material e imaterial. Sendo a última relacionada a elementos abstratos como hábitos e rituais. 

Cultura vai ganhando um sentido antropológico, não existe povo sem cultura, porque ela é aquilo que o ser humano faz e os demais animais não. Assim, as artes populares foram ganhando espaço no espectro cultural.

Olímpia-SP ainda é considerada a capital do folclore brasileiro, uma cidade paulista que encontrou sua vocação no turismo e na cultura.

Assim, a música caipira representou uma época; a sertaneja, outra. O samba nasceu no mundo urbano, no surgimento das cidades brasileiras; o hip-hop se encaixou na culturas dos jovens da periferia das selvas de pedra.

O jeito de viver de um povo é a sua cultura que vai mudando conforme caminha os grupos humanos sobre a Terra. Aceitar o outro como é, cada povo com suas características, não ser preconceituoso, estão na esteira da diversidade e da inclusão.

Não podemos neste momento difícil de incompreensão e ódio na sociedade brasileira, nos esquecer do folclore. Pode ser que nele podemos nos reencontrar   .
       


2 comentários:

Unknown disse...

"Se queres prever o futuro, estuda o passado." Confúcio.
Conhecer e preservar nossa história é fundamental para compreender nosso presente e idealizar nosso futuro.

Patrícia Bracale disse...

Bora compartilhar nossa diversidade e evoluir para nossa humanidade.