Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Ex-secretário municipal de Cultura - 2009-16 Araçatuba-SP
Agosto, mês do folclore, principalmente
o dia 22, já foi mais comemorado. Durante o novo governo brasileiro, eleito em
2018, que não deu a devida atenção à cultura; e neste ano da pandemia, o
problema foi agravado ainda mais. O folclore tem sido pouco lembrado, com as
escolas fechadas, espetáculos proibidos.
Nas entrelinhas da história, percebe-se que antigamente a elite intelectual tinha a concepção de que povo pobre e analfabeto não tinha cultura, formava-se a "plebe ignara". Tratava-se como cultura o saber requintado, a arte feita nos templos eruditos. Só havia cultura se lessem, escrevessem, assistissem a espetáculos de teatro e de músicas clássicas.
A partir da criação da palavra folclore, vieram o conceito e a teoria. Isso quis dizer que o saber do povo não seria mais ignorado. Numa época em que o cientificismo era o senhor, valorizar o saber popular como fez William John Thomas foi um passo importante.
Um cidadão inglês, William John Thoms, em 1846, inventou uma palavra composta por duas outras: folk (povo) e lore (saber), formando então folclore. Apenas em 1965 que o Brasil, para mostrar que estava interessado no assunto, criou o Dia do Folclore, sendo escolhida a data de 22 de agosto.
Atualmente, surgiu o conceito de cultura popular que abraça o que está acontecendo nas ruas da cidade, nas periferias das metrópoles, enquanto o folclore tem como objeto a cultura popular já cristalizada que se torna espetáculo nos dias atuais. No Brasil, geralmente ligada à zona rural.
A
queima do alho, por exemplo, é uma festa que lembra nosso folclore, mas que foi
uma realidade dos boiadeiros quando paravam a boiada e a tropa se alimentava.
A
folia de reis era um momento de festa religiosa na zona rural de nossa região,
costume trazido de Minas Gerais e Bahia, onde se misturavam também a cultura
africana e indígena.
Lembrar
os festejos populares de épocas passadas é conservar a memória cultural de
nossa população. Rodeio, por exemplo, era uma atividade de lazer dos peões nas
paradas. E hoje é uma atividade da economia criativa da cidade de Barretos-SP.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura) criada junto com a UNU trabalha com os conceitos de
cultura material e imaterial. Sendo a última relacionada a elementos abstratos
como hábitos e rituais.
Cultura vai
ganhando um sentido antropológico, não existe povo sem cultura, porque ela é
aquilo que o ser humano faz e os demais animais não. Assim, as artes populares
foram ganhando espaço no espectro cultural.
Olímpia-SP ainda
é considerada a capital do folclore brasileiro, uma cidade paulista que
encontrou sua vocação no turismo e na cultura.
Assim, a música
caipira representou uma época; a sertaneja, outra. O samba nasceu no mundo
urbano, no surgimento das cidades brasileiras; o hip-hop se encaixou na
culturas dos jovens da periferia das selvas de pedra.
O jeito de viver
de um povo é a sua cultura que vai mudando conforme caminha os grupos humanos
sobre a Terra. Aceitar o outro como é, cada povo com suas características, não
ser preconceituoso, estão na esteira da diversidade e da inclusão.
Não podemos
neste momento difícil de incompreensão e ódio na sociedade brasileira, nos
esquecer do folclore. Pode ser que nele podemos nos reencontrar .
2 comentários:
"Se queres prever o futuro, estuda o passado." Confúcio.
Conhecer e preservar nossa história é fundamental para compreender nosso presente e idealizar nosso futuro.
Bora compartilhar nossa diversidade e evoluir para nossa humanidade.
Postar um comentário