AGENDA CULTURAL

9.10.20

Um livro que retrata a baianidade

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Recebi de meu amigo Antônio Miranda o seu livro "O que não me sai da lembrança", 2019. Amigo é maneira de dizer, nada com infância, pois o conheci na campanha eleitoral de 2012, na reeleição do prefeito Cido Sério. Tratava-se de um homem da cultura no marketing político. A sua vinda a Araçatuba é ligeiramente contada no livro.

Conversamos presencialmente nalguns momentos, pois eu era o secretário municipal de Cultura em 2012, e foi o bastante para que houvesse uma empatia. Um baiano neste mundo caipira, fundão do Estado de São Paulo, era mesmo engraçado.

Com título tão sui generis, chama a atenção, mas na verdade é um livro de memórias de um baiano que levou a vida na maciota. Se a vida não foi boa, ele fez ficar na suas crônicas deste livro contadas com muito humor. Cita muitos casos na Bahia passados durante a ditadura militar.

O jeito alegre e descontraído de como os baianos levam a vida corre o Brasil. Na Bahia, tudo é bom e maravilhoso, motivo para o turismo cultural.

Conheci um outro baiano na década de 80, quando eu era vereador: um advogado da Pastoral da Terra, chamava-se Hérber. Num certo dia, na copa do Legislativo araçatubense, tomando um cafezinho com ele, era um tempo em que não se preocupava com a linguagem politicamente correta. Ao lado de um baiano, disse que um determinado sujeito havia feito uma baianada. Só não apanhei porque éramos amigos, mas levei uma senhora bronca. Eu havia sido injusto com os baianos.

A minha intenção era fazer uma resenha formal do livro, com esquema rígido, mas ao final de leitura, antes de escrever, fui ver na internet o que falavam do livro de Antônio Miranda. Fiquei pasmo. Tão citado, mas tão citado que ganha de Jorge Amado. O sujeito é mesmo bom. 

Na verdade, sem nenhum menosprezo, trata-se de um livrinho de 85 páginas, fininho como os meus, cujas crônicas são intitulados de "Desordem 1", indo até a 51. E cada uma tem o seu subtítulo. Se caísse nas mãos do baiano Gregório de Matos ia ser chamado de opúsculo, pois não para de pé. 

Eu ia lendo as crônicas e passava zaps para Miranda:

Zap 1: Estou lendo um livro de um amigo baiano e me lembrei do Seu Geraldo, seu pai. Numa determinada crônica, ele se pergunta: por que todo alfaiate era comunista.

Luiz Carlos Ribeiro, morador de Araçatuba, filho de Seu Geraldo, me respondeu: pois é, Hélio. Isso é verdade, não todos, mas a grande maioria era mesmo. Até onde sei é que na época uma das maiores e mais bem organizada e politizada associação de profissionais no Brasil era dos alfaiates. Disputava com ferroviários e outros. 

Zap 2: A frase "Pra que cara feia? Na vida, ninguém paga meia" que está no seu livro na crônica "Cem anos com o Coringa", como respostas dos artistas ao público, serve bem hoje ao governo Bolsonaro que quer liquidar com a UNE, eliminando a meia entrada. A frase é a mesma, mas, em contextos diferentes, serve a dois senhores.

Zap 3: boa-noite! Você me fez reouvir, com toda a baianidade do Caetano, “Chuvas de verão”. Estou saboreando o seu livro bem devagar. Aliás, temos mais alguma coisa em comum: um neto chamado Inácio. 

E assim foram vários zaps. Ler crônica de outros escritores é muito bom. E você, caro leitor, vai gostar de ler esse livro. Pedidos para antonio.zerozero@gmail.com

Fotos copiadas do site: Falando em Literatura 

 

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