Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Quando a miséria chega à casa das pessoas por uma política econômica nada inclusiva, que trata os pobres como mendigos, com auxílio emergencial, sem nenhuma contrapartida, a venda de porta em porta aumenta e cada um se vira como pode.
A Prefeitura de Araçatuba tem o serviço de
recolhimento de lixo reciclável. No meu bairro, toda quarta-feira, a empresa
passa com seu caminhão. E o lixo orgânico é recolhido nas terças, quintas e
sábados.
Não sei se isso acontece em toda a cidade de Araçatuba,
mas na minha rua, que não fica em zona nobre, essa separação entre orgânico e
reciclável é feita, e a recolha do lixo obedece a tal critério.
Embora a gente saiba que às vezes o lixo só muda de
lugar dentro da cidade, sai das casas embalado e vai para o aterro, nos
sentimos aliviados por ele não estar acumulado em nossas calçadas.
Em certas casas, o lixo é um luxo. Noutras, o lixo dos
outros é o sustento da família,
principalmente em de crise. Nestes míseros tempos atuais, a empresa prestadora
de serviço no recolhimento de lixo reciclável arrumou concorrentes, há
catadores terrivelmente liberais que passam antes e pegam o rico lixo. Não
estão roubando, apenas estão exercendo o direito de sobreviver. O caminhão
contratado pela prefeitura, uma forma estatizante de administrar (segundo os
liberais), passa em vão na rua de minha casa.
Já ouvi várias vezes a frase em meu quarteirão:
- Roubaram o meu lixo!
Tudo bem. Que mal tem? O problema é se a prefeitura
dispensa o caminhão contratado e deixa o recolhimento do lixo reciclável por
conta dos garis informais. Se essa hipótese acontecer, é o extremado
neoliberalismo desorganizando o que funcionava bem, deixando a população à sua
própria sorte.
Já pensou se não houver quem organize dia e horário de
o “lixeiro” passar em cada rua? No caso a prefeitura, e ficar a critério de
coletadores informais, conforme o mercado?
A cidade ficaria tomada pelo lixo, desorganizando a vida urbana.
Trata-se de apenas um exemplo pedagógico. Ser
extremamente estatista, é comunismo, tudo só funciona com a intervenção do
Estado (poder público). Ser terrivelmente neoliberal é acreditar que o sistema
se organiza por si, o que não é verdade.
A melhor alternativa é agir conforme a necessidade, sem a preconcepção ideológica. Ser estatizante quando for preciso, liberalizante quando a realidade permitir.
2 comentários:
A disputa aqui em Campinas é grande, a ponto de eu já ter feito amizade com alguns dos laboriosos cata tudo.
Em minha rua acontece lo mesmo. Que fazer a não ser continuar colocando na rua.
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