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Luca Sanna - Caos cósmico (2006) |
O que podemos aprender da visão antiga, moderna e contemporânea sobre o caos? Qual é o valor que ocupam as crises em nossas vidas?
O primeiro ato de ousadia diante do caos é a aceitação da realidade.
As crises e os pontos de ruptura são inevitáveis em nossas vidas. São
parte do caminho da transformação e da evolução individual e coletiva. Para
isso necessitamos deixar de nos anestesiar, nos congelar, nos esconder ou
escapar diante da realidade e deixar de resistir à mudança.
Covardia é fugir dos problemas com atitudes escapistas, medíocres e
conformistas. Covardia é decidir se queixar, criticar, se vitimar, negar,
ignorar, culpar os outros ou dar-se por vencido. Aceitar as crises e os
desafios como são nos transformam em guerreiros audazes.
Uma crise é uma acumulação de energia muito potente que necessita ser
canalizada de maneira criativa e construtiva. Recordemos a teoria do big bang
sobre a origem do universo: este nasce a
partir de uma força muito potente que entra em explosão e assim surgem as
galáxias, as estrelas e os planetas.
Se exercemos resistência ou tentamos bloquear a potente energia
expansiva que ocasiona as crises, sua força se polariza trazendo consequências
violentas e destrutivas, porque a única coisa que está buscando essa força
indômita é sua liberação criativa.
Diante da força de explosão de um vulcão ou a agitação das marés, qual é
nossa atitude?
Podemos ser precavidos e nos proteger, mas não temos como nos sobrepor a
seu poder, só aceitar que a natureza se expresse e reencontre seu equilíbrio.
De fato, pode-nos notar que uma das terras mais favoráveis para a agricultura
são aquelas que foram banhadas por minerais vulcânicos.
Aceitar as crises é permitir que essas forças potentes sigam seu fluxo
natural de criação e regeneração.
As crises são manifestações de uma série de aspectos inconscientes não
elaborados que buscam ser trazidos à luz. Talvez seja mais fácil andar pela
vida sorrindo falsamente e aparentando que “tudo está bem”, enquanto os
incômodos e as tensões internas se acumulam debaixo do tapete. Porém todo
conflito ignorado não passará despercebido porque cedo ou tarde gritará em forma
de doenças ou calamidades.
É muito mais saudável aprender a tomar consciência e elaborar os
pequenos conflitos quando estes se apresentarem em vez de esperar que se
acumulem de maneira demolidora. Este é o caso de um incômodo corporal que
começa dando sinais e que, ao não ser atendido, converte-se em uma doença
aguda. Tomemos o exemplo de uma dor de pescoço: sentimos o incômodo, mas
continuamos ocupados mentalmente e desconectados do corpo, a tensão continua se
acumulando e a dor vai se intensificando a tal ponto que adotamos uma postura
incorreta para poder lidar com a dor. A postura incorreta vai desalinhando as
vértebras, gerando um desequilíbrio até envolver outros ossos, músculos e
órgãos.
Por fim, desenvolver a capacidade de aceitar a energia indômita e imprevisível da vida nos permitirá fazer das forças caóticas nossos melhores aliados para a renovação e a inovação. Porque a única forma de viver totalmente é conhecendo o dia e a noite, o doce e o amargo, agitação e a calma.
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