Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Cronista
precisa viver antenado, olhar por todos os lados, descobrir as subjetividades
da urbe. Passo pela avenida, defronte ao atacadão Assaí, no sentido
bairro-centro, quando vejo uma placa bem caseira ao lado do carro, nela havia
escrito apenas “IMBU”.
Claro,
o cara vendia do porta-malas de seu carro também outras frutas, mas o fruto da
árvore que dá de beber por suas raízes, na língua tupi-guarani, era o
carro-chefe daquela feirinha, comandada, certamente, por um desempregado.
Parei
mais à frente sob os protestos da Helena, desci do carro e encontrei o fruto de
minha infância. Comprei um quilo, R$ 10,00. Nem em minhas viagens ao Nordeste
encontrei a fruta, nem mesmo em Rosana-SP, que era cheia de nordestinos.
Apesar
de eu ser cabeçudo, não sou nordestino. Conheci o umbuzeiro no sítio do tio
Vicente Fortin, no bairro rural Cafezópolis, Araçatuba-SP. A árvore ouviu os
gritos de minha mãe na tulha ao lado, dando à luz um anjo rebelado.
Debaixo
da copa enorme, a criançada enchia a pança de tanto chupar embu em sua vasta
sombra. Três palavras designam o fruto: umbu, embu, imbu.
Já
em casa, frutos lavados, tomei o porre, sentindo o gosto de infância. Não sei
como aquele umbuzeiro foi parar naquele sítio. Naquela época, eu não tinha a
curiosidade de descobrir as origens das coisas.
O meu reencontro com as frutas silvestres de minha infância não foi sempre cordial, principalmente aquelas que agora grudam nas próteses dentárias, como o jatobá e a macaúba. Isso não ocorreu com embu, meio parecido com a jaboticaba no jeito de saboreá-lo.
O
meu embu de menino se encontrou com umbu do literato, cheio de empáfia, quando
li o livro “Os sertões”, de Euclides da Cunha, onde escreveu que o umbuzeiro é
“árvore sagrada do sertão”: sombra e água.
Então,
caro leitor, para agradar seu avô ou sua avó, não precisa dar-lhes presentes
comprados em shopping. Escute suas histórias antes de fazer a compra do
presente.
MAIS INFORMAÇÕES SOBRE UMBU:
https://www.cerratinga.org.br/especies/umbu/
2 comentários:
Professor Hélio, que viagem! Só quem conhece essa fruta pode entender cada palavra so texto acima. Valeu pela lembrança...
Antigamente tinha vários embuzeiros nos pomares em Araçatuba.É uma fruta deliciosa,aqui é raridade.
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