AGENDA CULTURAL

8.1.22

Gosto de infância

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Texto alterado em 11/01/2022

Cronista precisa viver antenado, olhar por todos os lados, descobrir as subjetividades da urbe. Passo pela avenida, defronte ao atacadão Assaí, no sentido bairro-centro, quando vejo uma placa bem caseira ao lado do carro, nela havia escrito apenas “IMBU”.

Claro, o cara vendia do porta-malas de seu carro também outras frutas, mas o fruto da árvore que dá de beber por suas raízes, na língua tupi-guarani, era o carro-chefe daquela feirinha, comandada, certamente, por um desempregado.

Parei mais à frente sob os protestos da Helena, desci do carro e encontrei o fruto de minha infância. Comprei um quilo, R$ 10,00. Nem em minhas viagens ao Nordeste encontrei a fruta, nem mesmo em Rosana-SP, que era cheia de nordestinos.

Apesar de eu ser cabeçudo, não sou nordestino. Conheci o umbuzeiro no sítio do tio Vicente Fortin, no bairro rural Cafezópolis, Araçatuba-SP. A árvore ouviu os gritos de minha mãe na tulha ao lado, dando à luz um anjo rebelado.

Debaixo da copa enorme, a criançada enchia a pança de tanto chupar embu em sua vasta sombra. Três palavras designam o fruto: umbu, embu, imbu.

Já em casa, frutos lavados, tomei o porre, sentindo o gosto de infância. Não sei como aquele umbuzeiro foi parar naquele sítio. Naquela época, eu não tinha a curiosidade de descobrir as origens das coisas.

O meu reencontro com as frutas silvestres de minha infância não foi sempre cordial, principalmente aquelas que agora grudam nas próteses dentárias, como o jatobá e a macaúba. Isso não ocorreu com embu, meio parecido com a jaboticaba no jeito de saboreá-lo. 

O meu embu de menino se encontrou com umbu do literato, cheio de empáfia, quando li o livro “Os sertões”, de Euclides da Cunha, onde escreveu que o umbuzeiro é “árvore sagrada do sertão”: sombra e água.

Então, caro leitor, para agradar seu avô ou sua avó, não precisa dar-lhes presentes comprados em shopping. Escute suas histórias antes de fazer a compra do presente.

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE UMBU: 

https://www.cerratinga.org.br/especies/umbu/

2 comentários:

Jairo Baroni disse...

Professor Hélio, que viagem! Só quem conhece essa fruta pode entender cada palavra so texto acima. Valeu pela lembrança...

Unknown disse...

Antigamente tinha vários embuzeiros nos pomares em Araçatuba.É uma fruta deliciosa,aqui é raridade.