AGENDA CULTURAL

17.3.22

Livros e o BBB, na guerra e inundação! - Alberto Consolaro

Livros em janela de Kiev e na calçada de Petrópolis

É assustador o nível nas conversas na casa mais vigiada do país! Tem um ditado popular que diz:

1 - Grandes espíritos ou mentes falam de ideias, raciocínios e verbalizam reflexões.

2 - Os espíritos e mentes medianos tendem a falar, discorrer e discutir sobre coisas, objetos e dinheiro. Viagens entram aqui quando só se fala o que disse o guia turístico, pessoas vistas e imagens das paisagens. Mas, viagens podem ser nível 1 se for resgatando a história, geografia, abstração e reflexões culturais dos locais.

3- Já as mentes e espíritos inferiores, menos evoluídos, tenderiam a falar sobre pessoas, vida alheia, maledicência, discutem sobre as atitudes e aparências das outras pessoas. Geralmente são papos cheios de preconceitos e reclamações. Nestes papos quase sempre se usa muito a palavra “eu”.

SE FOSSE LEI

Se virasse lei ficaria difícil participar de certas rodas ou reuniões familiares, no trabalho e conversar durante o entretenimento. Se diz ser difícil aguentar conversas de bêbado, mas isso depende muito de que bêbado.  Mesmo os bêbados, podem ter conversas interessantes, pois quando são muito inteligentes conversam sobre situações muito divertidas e profundas. Bêbado chato mesmo é o bêbado inculto!

Faça um teste. Em qualquer reunião, disfarçadamente, contabilize os assuntos abordados. Ficarás espantado: metade dos temas versam sobre vida alheia e a outra metade, de doenças e mortes! Claro que falar de celebridades, semi-celebridades e pseudo-celebridades é falar da vida alheia. E mais ainda, falar do marido ou esposa e ou de parentes e filhos.

LIVROS PODEROSOS

Uma das coisas que mais nos remete a imaginação são filmes, teatro e música, mas os livros parecem ser campeões. Livro cria cumplicidade do leitor com o tema que só mesmo quem lê rotineiramente consegue reconhecê-la. Como apreciador de livros de papel ou e-book, eles sempre me chamam a atenção. Vou expor três situações:

1. O entrar em uma casa, consultório ou escritório, sempre procuro por livros, mas ultimamente tenho encontrado estantes vazias ou servindo de prateleiras para enfeites e plantas artificiais.

Saber que no local não tem livros já diminui minhas expectativas e deixa o ambiente frio e pouco acolhedor. Claro que isso é muito pessoal. Talvez não ter livros diminua a chance de verdadeiramente conhecer a pessoa dona do lugar.

Parece verdade que diga o que lê ou leu, e eu te direi quem tu és! Por mais que procure na casa do BBB eu não consigo encontrar livros ou livretos. Por que seria que não colocaram nenhum livro em toda a casa?

2. Folhando os jornais da semana ou dedilhando os jornais na tela, em vários vi a mesma imagem obtida na Ucrânia: a janela de vidro de um apartamento em Kiev sob ataques, protegida ou vedada por livros, um sobre o outro para evitar que os estilhaçados de vidro, atingisse seus moradores, caso quebrasse!

Livros servem para quase tudo, mas nunca tinha visto como barreira protetora em uma guerra. Mal sabe Putin e muitos outros, que apenas disfarçam que leem, que o conteúdo de livros em suas mentes e sentimentos não induziriam e nem participariam de guerras putrefatas. Apenas deficientes mentais iletrados fazem guerra, são briguentos e gostam de armas assassinas. Os livros na janela da guerra dizem tudo por si mesmo: que imagem!

3. Na calçada em frente da livraria em Petrópolis inundada e suja, havia mais de 15 mil livros empilhados e barreados para serem descartados. Que cena triste! Eu chorei pelos livros e mentes cassados pela lama em seus direitos de aprender, ensinar e saber sobre as coisas da vida! Mentalmente, eu pedi perdão a estes livros em nome de todos que poderiam lê-los.

REFLEXÃO FINAL

Cada mente inculta sem o hábito de ler é quase uma alma a penar e a fazer outros sofrerem. Mesmo que seja o mais simples livro que exista, pode salvar uma mente! Sem livro, cada mente humana corre o risco de ser um vaso fértil para semear a guerra e a discórdia pela estupidez! Reflitamos e devolvamos os livros para as estantes! 

 Alberto Consolaro - professor titular
pela USP - consolaro@uol.com.br


 


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