AGENDA CULTURAL

19.12.22

Chorar novos choros - Antônio Reis


Encerrada a Copa do Mundo do Catar, com a Argentina merecidamente campeã, ponho-me a pensar no que realmente a Seleção Brasileira significa para o País. Deve ser respeitada como um símbolo nacional (Bandeira e Hino, por exemplo)? É uma nação que luta para não ser ofuscada por outra cultura que comemora gols de outra maneira? “É a pátria de chuteiras?”, eternizada por Nélson Rodrigues?

Seja qual for a resposta, a Seleção Brasileira de Pia Sundhage e Bia Zaneratto não deveria receber o mesmo tratamento da Seleção de Tite e Neymar, já que também representa o País, usa a mesma camisa amarela e calça chuteiras? Se exaltar o sucesso ou lamentar o fracasso da Seleção masculina faz parte do patriotismo esportivo, ignorar até mesmo o adversário da Seleção feminina numa Copa do Mundo não é antipatriotismo?

Acostumado a dancinhas de fair play duvidoso, o País acompanhou pelos jornais, portais de notícias, televisão e redes sociais o choro dos marmanjos diante da desclassificação para a Croácia. Foram mostradas à exaustão caretas de moleques mimados, que não tiveram seus desejos atendidos porque o desempenho escolar ficou abaixo do pretendido pelos pais, que lhes pagam os melhores colégios.

Na Copa do Mundo de futebol feminino, em 2019, na França, as meninas da Seleção Canarinho foram desclassificadas pelas “donas da casa” nas oitavas de final (segunda fase da competição), quando perderam por 2 a 1 na prorrogação. Se as brasileiras choraram, foi o choro invisível da mãe que não pode atender o filho que pede pão ou da mulher que apanha de seu homem. O Brasil e os brasileiros estavam deveras preocupados com seus compromissos, e parar as máquinas para assistir a um jogo de futebol feminino impacta o preço do combustível, a Bolsa despenca, o dólar dispara.

É incrível os olhares diferentes para as mesmas coisas: futebol, Seleção Brasileira e Copa do Mundo. Até um jornal bastante criterioso como a Folha de São Paulo, tem esse olhar diferente e postou em uma rede social logo após o encerramento das festividades no Catar: “Adeus Copa, obrigado por tudo e até 2026”. Mentira, em 2023 tem mais Copa do Mundo, cujas sedes serão Austrália e Nova Zelândia, com as brasileiras tendo como adversárias na primeira fase França, Jamaica e um quarto selecionado ainda a ser definido. Quem sabe choros diferentes causem mais comoção. 

 



(*) Antônio Soares dos Reis é jornalista em Araçatuba e ativista do Grupo Experimental (GE) da Academia Araçatubense de Letras (AAL)

antonio.reis.jornalista@gmail.com


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