AGENDA CULTURAL

7.1.23

No bar, gritando versos

Escritores Maria Rosa Dias e Nanu, putopoeta

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Na minha primeira sexta-feira (06/01/2023) sem Bolsonaro em Brasília, saí de casa para comemorar num sarau nas quebradas. Sarau é um nome chique para um evento de Nanu, putopoeta de Araçatuba, realizado no Bar do Júnior, boteco de duas portas. DJ dono de bar.  

Não sabe o que é um putopoeta? É um poeta puto com a vida, escreve e declama a dureza da vida misturada com palavrões. Heitor Gomes, quiboeiro, um escritor em fuga, perto do Nanu é um puritano. 

Bar do Júnior é um boteco instalado num bairro de classe média, numa esquina da rua Presidente Bernardes, Vila Santo Antônio, próximo à rodoviária.

Nanu chegou, instalou caixinha na calçada, coisinha miúda para não incomodar a vizinhança, começou a berrar seus putopoemas. Um frequentador do estabelecimento pegou o microfone e se pôs a explicar quem era este cronista, membro da Academia Aratubense de Letras. E terminou:

- Sou Bolsonaro!

Saí da mesa, fui abraçá-lo. me beijou o rosto. E falei baixinho:

- Um bolsonarista elogiando um petista!

E ele respondeu:

- É a democracia...

Certamente, um bolsonarista nutella.  

Além dos habituês, estiveram presentes Maria Rosa Dias, Sirlei Nogueira, Hélio Consolaro e sua esposa Helena. Ausentes ilustres: José Hamilton Brito e Antônio Reis.

Dono do bar: Júnior

A cadeirante Edna com seu marido assava numa pequena churrasqueira linguiça cabo de relho e espetinhos. Total de 15 pessoas. 

Nanu, Válter Alves, promotor do evento, é um sujeito avô, com neto, cabelos bem grisalhos, barriguinha avantajada, que ainda usa piercing no nariz. A idade chegou, e o cara continua revolucionário. Trabalhou no antigo Daea, hoje é funcionário da biblioteca municipal Rubens do Amaral.

Quando o Daea foi concedido à Samu, a Prefeitura deu a liberdade para cada um escolher a secretaria municipal em que quisesse trabalhar. Com alma de poeta, Nanu escolheu a Cultura, a biblioteca. Está no céu. 

Nanu gritava, queria vender seus livros de encadernação artesanal e dava de graça Machado de Assis, Eça de Queirós etc. 

- Venha buscar, é de graça! 

Nada. Não iam buscar. Maria Rosa não tinha exemplares disponíveis de seu livro "Elegias de Pandora". E eu com os meus no carro.

Flyer

Pedi licença para o Nanu, doei os meus livros. Como já fui candidato na política, professor de literatura, sei como é a alma do cidadão brasileiro, principalmente do araçatubense, fui a cada mesa, dava o livro, autografava e falava um pouquinho sobre o seu conteúdo para motivar a leitura em casa. Ninguém ficou sem livro, e eu duro, tinha no bolso R$20,00 para as despesas de boteco. Foram na medida. Afinal, o artista precisa ir aonde o povo está.

Por que o Consa está contando isso aqui, pode perguntar algum leitor? Para mostrar como é ser um escritor aqui no fundão do Estado de São Paulo, mendigando leitura, pagando para imprimir seus livros. Se publicar só em blog, internet, não é considerado escritor. "Morar no interior-SP é uma riqueza, mas é f..." - gritou Nanu.

3 comentários:

Anônimo disse...

O interior, em todas as áreas, ainda precisa ser " desbravado".

Anônimo disse...

Só mesmo o Consolaro...Como se diz, e de tirar o xhaoéu.

Anônimo disse...

Puto poeta. Precisa mais wue isso?