AGENDA CULTURAL

11.5.23

Princesa Isabel assinou a lápis

Quadro de Cândido Portinari: Café, premiado em Nova York

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Dia 13 de maio está próximo. Dizem os maldosos que a Princesa Isabel assinou a libertação dos escravos a lápis, pois o império inglês exigia do Brasil um país livre, já os senhores donos das terras brasileiras queriam de Dom Pedro II a continuidade da mão-de-obra escrava. Assim, pôs a filha para assinar qualquer coisa. 

E o imperador perdeu o apoio dos latifundiários, que deram força à proclamação da república. Assim a família imperial fugiu para a Europa, e um marechal  se tornou o primeiro presidente do Brasil, sem saber muito bem o que era uma república, Deodoro da Fonseca. Os militares andam azucrinando desde aquela época.

Assim, grande parte dos negros, foram postos na estrada, sem eira e nem beira, oportunidade ímpar para se fazer uma reforma agrária. E a república, comandada pelos fazendeiros, chamou os imigrantes para tocar as lavouras, como uma forma de se vingarem dos negros: chegaram os italianos, os japoneses e outros mais para trabalhar na lavoura.

Dentre os italianos, chegaram também os urbanos que se instalaram em São Paulo e fundaram em 1922 o Partido Comunista Brasileiro. Desde aquela época, tem se a mania de conservadores chamar os progressistas de comunistas.

Os negros eram tão desprezados que o fundador da Academia Brasileira de Letras era um negro, Machado de Assis, que certa vez foi chamado de mulato, e o detrator foi desbancado por Joaquim Nabuco: "onde se viu chamar o escritor de mulato". E assim os retratos de Machado eram cada vez mais esbranquiçados. Dar inteligência a um negro era uma desfeita.

As companhias inglesas que construíam as ferrovias contrataram os negros libertos para fazer o serviço pesado e assim a região Noroeste de São Paulo foi povoada de ferroviários retintos. Essa é a explicação de Araçatuba ter uma escola pública com o nome de Luís Gama, advogado negro, referência dos negros na luta contra o racismo atualmente. Era uma escola cujo prédio beirava a Noroeste do Brasil (NOB). Foi uma lucidez do secretário estadual de Educação da época homenagear os ferroviários.   

Outro fato interessante. Um quadro de Cândido Portinari, premiado em Nova York, foi recusado por um ministério do governo brasileiro na época porque o pintor brasileiro havia posto negros trabalhando na apanha do café. Este preconceito com os africanos permanece até hoje. Não basta ser tolerante com o racismo, os brancos conscientes dessa aberração precisam ser antirracistas.

As lideranças do movimento negro brasileiro preferem comemorar a data do início de sua libertação em 20 de novembro, dia da morte de Zumbi, líder dos quilombos. Pessoas que são contra o Dia da Consciência Negra é gente de bens. Do bem, não é.

Comemoremos também 13 de maio, a data dos brancos para a libertação dos negros. Mas lembremos: para eles a assinatura de Princesa Isabel  foi feita a lápis. Estão doidos para apagá-la.      

    

6 comentários:

Manuel O. Pina disse...

Muito bom.

Vinícius P. Araújo disse...

Muito bem colocado! "Gente de bens. Do bem, não é."

Ventura Picasso disse...

Pelo menos uma canetinha Bic ninguém ofereceu? Hélio existe um quadro, um mural, na na agência da Caixa Federal, em Ata., que lembra bem essa hepoca, salvo engano...

Anônimo disse...

Quanta profundidade , realidade e conhecimento. Todos deveriam ler este texto.
Parabéns Hélio sempre compromissado com a verdade.

Hélio Consolaro disse...

COMENTÁRIO MANDADO POR WHATSAAP:
Ler um texto, rebuscado de sabedorias de quem tem as coordenadas das Letras. Percebe-se que é quem conhece as estilísticas em narrativas e vai buscar nos seios das mais alterosas fontes de conteúdos consistentes só pode ter a iniciativa de transformar a capacidade mental de um povo.
Com isto, o ilustre professor e jornalista Sr. Hélio, mais uma vez lança sementes onde se faz necessário aflorar a Cultura.
Gastei do texto !
Um abraço
Antônio Garcia de Oliveira - Pereira Barreto-SP

Anônimo disse...

Creio que alguns dos meus antepassados foram escravos, às vezes penso em seus sofrimentos , humilhações e tudo isso por ter a pele negra.
A assinatura da princesa Isabel a lápis pode ser que em se tratando de uma mulher não teria credibilidade e poderia ser revogada...